quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sangue novo no Design goiano

Artistas inovam numa produção mais consciente e ecologicamente correta, abandonando a escala industrial em prol de peças mais elaboradas e exclusivas


Se enganam os que pensam que para colocar boas ideias em prática sem perder a qualidade é necessária uma estrutura industrial. No ritmo da pós-modernidade, uma nova safra de artistas vêm na contramão do modelo capitalista e da criação em larga escala utilizando um modo de produção mais independente e minimalista, no qual as peças são feitas de maneira quase artesanal, uma a uma, garantindo exclusividade e excelência no acabamento.

De carona no "faça você mesmo", lema do movimento punk do início dos anos 70, este novo segmento questiona o suposto monopólio das técnicas por especialistas e defende a estimulação da capacidade das pessoas não-especializadas de aprender e realizar coisas além do que tradicionalmente se julgam capazes.

Criada em 2006 pelo designer Elton Rocha (27), a MOZ é um exemplo bastante completo deste tipo de produção. Nascida de uma parceria com o arquiteto Jesus Henrique Cheregati, professor da PUC Goiás, a marca produz acessórios vanguardistas e exclusivos, que graças ao advento da internet e da facilidade de divulgação proporcionado por ela, consegue se manter somente em plataforma virtual (www.mozbrazil.com). Mesmo com a saída do arquiteto do projeto, em 2007, Elton decidiu dar prosseguimento à grife, que já completa quatro anos e está em sua 3ª coleção.

"Desde os tempos da escola eu já nutria a vontade de criar minha própria marca. O projeto tomou forma quando percebi a carência de acessórios de moda que carregassem um conceito próprio, contassem uma história e não fossem apenas um complemento das coleções de vestuário, como geralmente acontece. Desse anseio pelo diferente surgiu a MOZ, que sempre manteve como premissa o uso de elementos musicais, mesmo que de forma indireta e as vezes não muito óbvias", conta.

Prova maior dessa ligação é o nome da marca, que teve origem na imagem espelhada da palavra SOM. "A música é um elemento muito importante em nossas coleções, e mescla-se com outros conceitos e referências para manter a relevância e atualidade do trabalho", comenta. A coleção atual, por exemplo, foi batizada de Ambifásico e mistura elementos musicais com símbolos tecnológicos e referências ambientais. O resultado são pássaros formados por claves de fá, libélulas USB, árvores cujos galhos são arrobas, entre outras misturas. Cheias de cores e vivacidade, as peças encontram inspiração no movimento frenético das informações: a tecnologia transformando o surreal em real.

Os elementos procuram reproduzir o modo de vida no mundo contemporâneo: a busca pelo anticonvencional, pela autenticidade, pelo reconhecimento. Objetos de uma geometria instigante que navegam num trânsito livre entre as formas, enfeitando e dando vida ao trabalho. Numa visão ampliada, as contradições se complementam, se unindo numa sintonia de beleza, multiplicidade, opções e mistura.

Sustentabilidade e ambientalismo

A temática ambiental atingiu também a coleção de verão do designer de moda, pintor e figurinista Lucas Silveira (21), outra revelação do segmento "do it yourself". Criada em 2007 na busca por uma identidade nova e sem preconceitos para a atual geração hi-tech, a marca promete criar, a cada nova coleção, funções inovadoras para os materiais já existentes, tendo visão e coragem para mudar as “regras” e visando uma moda essencialmente atemporal. "Não se pode fabricar água, mas é possível dar novos destinos a materiais que seriam descartados e adiar um possível colapso ambiental. Por isso, além das iniciativas da marca, também sou responsável por uma assessoria no Colégio Ávila, onde introduzo aos alunos conceitos e ideias de como produzir roupas com material reciclável", afirma.

Elton também utiliza a reciclagem como alternativa de sustentabilidade para a MOZ: todas as embalagens da Ambifásico são fabricadas a partir de garrafas pet e visam pelo reaproveitamento de materiais.

Artistas multitarefa

Profissional multifacetado, Elton se ocupa de todas as etapas de produção, da concepção e desenvolvimento das peças até a fase de execução e divulgação dos produtos. "Crio tudo no computador e terceirizo apenas etapas como cortes e gravações a laser, plotagens e afins. Porém, todas as peças são montadas por mim, uma a uma, de forma bastante meticulosa. Além disso, me ocupo de todo o material gráfico, fotográfico, embalagens, layout do site... Dessa forma, produzo de forma mais livre, e só lanço um trabalho quando estou completamente satisfeito com todo o processo", admite.

"Além de desenhar o croqui das peças, participo de todas as outras fases da confecção, como modelagem e costura. Tenho uma pequena equipe, composta por duas pessoas, que me ajuda nesta parte, mas faço questão de colocar a mão na massa e dar minha contribuição a todos os processos", comenta Lucas, que possui um site com amostras de seu trabalho (www.lucassilveira.com).  

A multidisciplinaridade é um traço recorrente nas criações deste novo setor, uma vez que o objetivo é uma produção cada vez mais autônoma e livre. Porém, algumas desvantagens devem ser consideradas, como o aumento de custo por peça e a dificuldade de acesso a determinados materiais. "Quando você compra matéria-prima em larga escala, o preço tende a cair. Da mesma forma, alguns materiais só são vendidos em grande quantidade, o que dificulta muito a produção em escalas menores. Entretanto, por prezamos por características como exclusividade e qualidade de acabamento, arcamos com esse prejuízo", comenta Elton.

A MOZ produz aproximadamente dez peças de cada modelo, nas mais diversas tonalidades e variações. Segundo seu idealizador, uma nunca é igual à outra, considerando-se que cada peça possui suas características e particularidades, o que acaba dando uma personalidade muito forte para a criação. "As pessoas que já conhecem a MOZ reconhecem imediatamente uma produção da marca", conta.

Já a Lucas Silveira Produções fabrica cerca de quatro exemplares de cada criação, número que cai para apenas um nos modelitos feitos especialmente para passarela. "Damos a nossos clientes o prestígio de incorporarem o visual à suas personalidades, deixando de lado a homogenização que a moda em larga escala acaba gerando", afirma o estilista.  

Mercado em expansão

Segundo Lucas, o mercado da moda e do design em Goiás está ganhando espaço, impulsionado pela efervescência e pluralidade criativa presentes na Capital. "Lá fora, nosso Estado costumava ser visto como simples fabricante de roupas e assessórios, mas podemos perceber que isso já está mudando, principalmente em função dos novos nomes da moda em Goiânia", concluiu.

"Creio que o mercado de design em Goiás está em crescente desenvolvimento: nota-se a existência de públicos ávidos por novidades, seja em qualquer dos campos de criação. Além disso, existem muitos projetos e trabalhos interessantes acontecendo de forma independente na cidade, o que sinaliza para uma ascenção e abertura do mercado", reafirma Elton.

Um comentário:

  1. Olá Carol!
    Gostei demais deste post. Recomendei aos meus colegas designers que leiam e se sintonizem com esta "missão" de ampliar a vida útil de objetos fazendo design.
    Garanto que o mercado é promissor, pois, a matéria prima é praticamente gratuita. Reciclar pode sair muito caro para o meio ambiente, quando se trata de consumir energia, água e também na aplicação de alvejantes e outros produtos químicos neste processo.
    A reaplicação de objetos consome somente a criatividade e agrega valor ecológico aos produtos. Falei demais já. Parabéns pelo blog! Você é genial!

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