sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma paixão sem protocolos

Estrelado e produzido por Deborah Secco e Erom Cordeiro, Mais uma Vez Amor chega à Goiânia para mostrar que o sentimento amoroso pode (e deve) extrapolar as convenções sociais e as fantasias engessadas e irreais do "felizes para sempre"

Conhecida pelas personagens inesquecíveis que viveu nas telinhas, como Darlene, na novela Celebridade, e Maria do Céu, em A Favorita, Deborah Secco estava longe dos palcos teatrais, onde estreou com apenas dez anos, desde 2006, quando rodou o Brasil com o monólogo "Homens, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-los?". De volta ao teatro antes de estrelar a próxima novela das oito de Gilberto Braga, a atriz desembarca em Goiânia com seu novo espetáculo, "Mais uma Vez Amor". 

Com texto de Rosane Svartam, Ricardo Perroni e Lulu Silva Telles, a peça será apresentada no Teatro Madre Esperança Garrido em duas sessões: amanhã, a partir das 21 horas e domingo, às 20 horas. Dirigida por Ernesto Piccolo, a comédia romântica de aproximadamente 60 minutos marca a estreia da atriz no comando da produção, responsabilidade que divide com seu colega de cena, Erom Cordeiro. "Há muito tempo queria produzir uma peça. Começar a decidir e escrever minha própria carreira, em vez de só aceitar propostas. Acho importante o artista fazer coisas que sejam as que ele queira dizer", afirmou Deborah, que em 2009, completou 20 anos de carreira.

No palco, os atores, que já contracenaram juntos em 2005 na novela América, vivem os encontros e desencontros de Rodrigo e Lia, um casal apaixonado que possui uma vida a dois nada convencional. Casados com outras pessoas, eles se perguntam se são amantes, amigos ou coisa nenhuma, dilema que derruba por terra as fantasias casamenteiras e propõe uma visão mais realista das relações amorosas, mostrando que o casamento não precisa ser necessariamente o final feliz de um relacionamento duradouro.

"A identificação do público com a história é imediata. A minha foi. É uma peça leve, que faz bem. Acho que todos sairão da sessão felizes. É assim que me sinto quando acabo de fazê-la: leve e feliz", falou a atriz sobre o espetáculo, que lotou teatros de 2002 a 2004, quando tinha no elenco Luana Piovani e Marcos Palmeira. Repetindo a dose, a peça já passou por diversas capitais brasileiras e atingiu a marca dos 30 mil espectadores. Em entrevista que você confere a seguir, Deborah falou sobre a montagem do espetáculo, as dificuldades de produção e as delícias de sua volta aos palcos. Confira:
 
A última vez que você fez teatro foi em 2006, quando viajou com o monólogo "Homens, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabe-los?". O que a atraiu de volta aos palcos depois de quase quatro anos? Como surgiu a ideia de participar de "Mais uma Vez Amor"?

Deborah Secco - Comecei minha carreira no teatro e sou apaixonada por ele, porém, devido aos compromissos com a TV e o cinema, tive que me afastar um pouco. Estou produzindo pela primeira vez junto com um grande amigo e sócio Léo Fuchs, o que me possibilita poder desenhar mais minha carreira. Com isso, consigo conciliar o teatro na minha carreira novamente.

Como foi a preparação para a personagem?


Deborah Secco - Desde que li esse texto maravilhoso da Rosane Svartman me apaixonei. Minha personagem é maravilhosa, permite experimentar e desenvolver desde a emocão até a comédia.
 
Quanto tempo levou a montagem da peça?

Deborah Secco -
Começamos as leituras em abril deste ano. Em maio, decidimos o elenco e a ficha técnica e tivemos um mês de ensaio com o talentoso e querido diretor Ernesto Piccolo.

Este é o primeiro espetáculo de teatro que você produz, em parceria com o produtor Léo Fuchs. Como surgiu esta parceria e quais foram as principais dificuldades enfrentadas por vocês?

Deborah Secco -
O Léo Fuchs é um grande amigo, artista como eu, cheio de sonhos e desejos artísticos. Nosso encontro foi imediato. Já o conhecia por seus trabalhos de sucesso no teatro, mas quando sentamos e colocamos tudo no papel, vi realmente que meus sonhos podiam se realizar e da forma que quiséssemos. Escolhemos o diretor que queríamos trabalhar, escolhemos desde o texto até o figurino juntos. Dificuldades em producão sempre existem, mas fazemos uma dupla bem afinada, de sucesso mesmo, o que torna nosso trabalho cada vez mais prazeroso.

Na peça, você aparece apenas de calcinha e sutiã e simula cenas quentes de sexo com o ator Erom Cordeiro. Qual são as principais diferenças de fazer este tipo de cena na TV e no teatro? Você se sentiu inibida em algum momento?

Deborah Secco - As pessoas valorizam muito esse fato da calcinha e sutiã (risos). Contamos uma história linda de um casal, desde a adolescência até a velhice. Óbvio que, para contarmos essa trajetória de quase 80 anos de amor, temos que passar por discussões, desejos, cumplicidade e sexo. Mas tudo feito de uma forma linda e não há cenas quentes de sexo não, só simulacões de um amor lindo vivido por Lia e Rodrigo.

A peça já passou por várias cidades desde que estreou, em julho, no Recife, e de lá pra cá já foi vista por mais de 20 mil espectadores. Qual tem sido a receptividade do público?

Deborah Secco -
Melhor impossível. O espetáculo é muito bom. Uma comédia romântica onde as pessoas, além de dar boas gargalhadas, saem do teatro pensando e refletindo. Na verdade, já fomos assistidos por 30 mil pessoas nesses dois meses de temporada. As pessoas amam a peca e se identificam demais com os personagens.

O fato de retratar o cotidiano comum acaba fazendo com que o público se enxergue na peça. Na sua opinião, é essa identificação que torna o espetáculo tão relevante e popular? A que você atribui este estrondoso sucesso?

Deborah Secco - Isso aproxima muito o público dos personagens, fazendo com que eles passem a fazer parte da história. Esse sucesso é gracas ao encontro teatral de várias pessoas que precisavam se encontrar nesse momento para dizer esse texto: Erom Cordeiro, Léo Fuchs, Ernesto Piccolo, Rosane Svartman e toda a minha equipe técnica (Rosana, Careca, Feio, Guz e Kátia). Eles não só se juntaram a mim nessa empreitada, mas agarraram este projeto como se fosse nosso filho. Um bom camarim reflete no espetáculo, nós todos nos amamos e nos respeitamos muito. Com isso... o sucesso vira consequência.

SERVIÇO
Mais uma vez Amor - Com Deborah Secco e Erom Cordeiro
Quando: Amanhã, às 21h, e domingo, às 20h
Onde: Teatro Madre Esperança Garrido (Colégio Santo Agostinho - Av. Contorno, s/nº, Centro)
Ingressos: R$ 60 (Inteira) e R$ 30,00 (Meia)
Pontos de venda: Zastras Brinquedos e Bilheteria do Teatro
Informações: (62) 3582-0009/3223-1328

Gosto apurado e talento que vem do berço

Com vozeirão privilegiado e influências preciosas de r&b, soul, samba-jazz e black music, Tony Gordon retorna à Goiânia para apresentação única no Bolshoi Pub

Nascido num verdadeiro ninho de preciosidades musicais, o músico Tony Gordon, filho de Denise Duran (irmã de Dolores Duran) com o jazzista Dave Gordon, não desapontou ao seguir os caminhos trilhados pela família. Com sua voz poderosa e estilo marcante que mistura influências de gênios do soul, como James Brown, Joe Cocker, Otis Reading e Marvin Gaye, com as ricas sonoridades brasucas de artistas fundamentais como Tim Maia, Jorge Ben e Wilson Simonal, o músico se apresenta amanhã, a partir das 22 horas, no Bolshoi Pub. Na bagagem, um repertório variado composto por clássicos inesquecíveis de r&b, soul, samba-jazz, samba-soul e black music.

Em entrevista exclusiva, Tony dividiu sua trajetória musical em três grandes momentos: o aprendizado, quando pôde tocar com os melhores músicos ou simplesmente ouvi-los de perto; a procura pela sua própria identidade, fase em que teve a chance de colocar a mão na massa até descobrir sua verdadeira sonoridade; e por último o deleite, que deriva dos dois primeiros e permitiu a ele desfrutar de tudo que a música oferece de bom. "Deixa de ser trabalho e vira prazer", afirma.

Indagado sobre os momentos que ficaram marcados na memória como os mais especiais da carreira, Tony destacou suas primeiras apresentações musicais como frontman. "Entre os muitos episódios marcantes, meu primeiro dia como cantor foi inesquecível... Estavam na platéia Sônia Braga, Cauby Peixoto e vários outros músicos importantes. A banda era excelente e foi realmente emocionante. Na verdade, foi uma semana incrível: estava cantando nesta casa há alguns dias e recebi elogios de Bob McFerrin. E olha que eu ainda nem sabia quem era ele", brinca.

Modéstia à parte, Tony já foi aplaudido por diversos músicos de renome, além de ter dividido o palco com artistas como Moacir Peixoto, Guilherme Vergueiro e Marva Wright em casas como Bourbon, Gallery, 150 Night Club, Havana e Blue Note. Entre suas versões mais famosas, estão canções como "Kiss", "On Broadway", "Get Up", "Isn´t She Lovely" e "I Feel Good", que segundo o músico não devem faltar no show de Goiânia. "Já toquei aí antes e foi maravilhoso. O público conseguiu entender e curtir com a gente. Foi emocionante! Espero receber de novo todo esse carinho!" 

 
SERVIÇO
Show com Tony Gordon
Quando: Amanhã, a partir das 22 horas
Onde: Bolshoi Pub (Av. T-2, esq. c/ R. T-53, Setor Bueno)
Ingressos: R$ 30
Informações: (62) 3281-6581

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As cordas mais rápidas do velho oeste

 Inspirada pelos filmes de Western Spaghetti, banda paulista The Dead Rocks desembarca hoje em Goiânia com a turnê do novo disco, Il Grilletto D'Oro

Com três turnês de sucesso pela Europa, shows na Argentina e em mais de dez Estados brasileiros, além de dois álbuns com cópias esgotadas, singles em vinil e participações em diversas coletâneas, a banda paulista The Dead Rocks retorna à Goiânia para duas apresentações: hoje, a partir das 20h30, na Mostra Ambientar e amanhã, às 22 horas, no Bolshoi Pub. Os shows fazem parte da turnê de lançamento do novo álbum do grupo, " Il Grilletto D'Oro", que acaba de sair com selagem da Monstro Discos.   

Inspirado no Western Spaghetti, como são chamados os filmes de cowboys rodados por diretores italianos entre 1963 e 1977, “O Gatilho de Ouro" de Johnny Crash (guitarra), Paul Punk (baixo) e Marky Wildstone (bateria) trás dez novos temas autorais, resgatando o tradicional som aveludado das antigas gravações dos anos 50 e 60 e trazendo a vibração instrumental deste trio formado em São Carlos há quase dez anos.

Recheado de referências do country, do rock 'n roll instrumental e das trilhas sonoras de Western Spaghetti, o registro contou com o dedicado trabalho de Sam Gambino, famoso artista norte-americano especializado no visual vintage e na arte tiki havaiana, que assina o encarte do disco. Como um verdadeiro cartaz de um filme de bang bang, a capa retrata um homem na forca com dois pistoleiros em segundo plano. Além do lançamento nacional pela Monstro Discos, o álbum também ganhará uma edição em vinil de dez polegadas pelo selo francês Hound Dog Records.

Na Mostra Ambientar, as dez faixas de Il Grilletto D'Oro serão apresentadas ao público logo após a exibição do filme The Good, the Bad and the Ugly, de 1966, dirigido por Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach. A casadinha não poderia ser mais certada, uma vez que a trilha sonora, de Ennio Morricone, foi uma das grandes inspirações do Dead Rocks para a produção do novo material, conforme explica o baterista Marky Wildstone em entrevista que você confere agora. Além do novo disco, Marky falou sobre a relação da banda com Goiânia, onde já tocaram mais de dez vezes, e os planos do trio para o próximo semestre.

Como foi a concepção, produção e gravação de Il Grilletto D’Oro? Qual a diferença mais marcante desse para os outros álbuns da banda?


Marky Wildstone - A concepção de Il Grilletto D'oro com certeza foi bem diferente de nossos outros álbuns. Johnny havia composto uma série de temas inspirados pelo som de Duane Eddy, The Ventures e as bandas originais de surf music. Resolvemos gravá-los em uma espécie de álbum temático, sem saber muito bem o que faríamos. Até que um amigo ganhou um equipamento de gravação portátil e nos convidou para testá-lo. Passamos então um final de semana, talvez um pouco mais, um feriado prolongado ou algo assim, gravando e se divertindo na casa dele, testando e gravando as novas músicas. Tudo bem informal, Johnny tinha gravado os temas em seu celular, ouvíamos todos os temas, arranjávamos uma possível versão e depois gravávamos. A bateria ficou em um quarto, o amplificador da guitarra em outro e o baixo no banheiro, com cabos que possibilitavam que tocássemos na mesma sala, mas sem que o som de cada instrumento vazasse sobre o outro. Ao final, tínhamos gravado 11 novos temas e gostamos muito dos timbres e da sonoridade. Acabamos ligando as faixas com esse conceito de Western Spaguetti, muito presente em todas as composições.

De onde surgiu a ideia de trabalhar com a temática dos faroestes?


Marky Wildstone -
Adoro cinema e trilhas sonoras. Após ouvir as músicas gravadas, foi inevitável a associação. Muitos temas de surf music são inspirados nos Bang Bangs...

O encarte do disco tem assinatura de ninguém menos do que Sam Gambino, famoso artista norte-americano especializado no visual vintage e na arte tiki havaiana. Como se deu o contato entre vocês?


Marky Wildstone - Já tínhamos feito algumas tatuagens de autoria do Sam. Achamos que seria um nome legal para agregar no disco e tínhamos certeza que teríamos um bom resultado. Ele nunca tinha feito nada na linha do Western Spaguetti e adorou. O contato foi todo feito pela internet.

O disco ganhará também um vinil de dez polegadas que será lançado pelo selo francês Hound Dog Records. Como surgiu esta parceria e qual a dificuldade de lançar neste formato no Brasil?


Marky Wildstone -
A Hound Dog Records é um selo francês de surf music de propriedade de Mr. Gerrymanders, amigo que conhecemos quando estivemos em turnê por lá em 2009. Eles nos convidaram para lançar algo e acabou que vai sair. A gente já tinha lançado vinil aqui no Brasil, feito discos na Polysom, mas eu acho que, desde que a fábrica reabriu, o custo ainda está muito elevado, talvez encaremos num próximo lançamento. 

Falando em incursões internacionais, o Dead Rocks traz na bagagens três turnês de sucesso pela Europa e diversos shows na Argentina e outros países. Como é a receptividade do público fora do Brasil?


Marky Wildstone -
É muito boa, na maioria dos lugares por onde passamos somos super bem recebidos e sempre surpreendidos, porque as pessoas acabam mantendo contato pela internet, querendo saber de novos discos, novas turnês, etc... cada hora numa língua diferente. Esses dias recebemos um pedido de CD da Malásia. A surf music tem fãs em todo o mundo.

Já tocaram em Goiânia antes? Como foi?


Marky Wildstone - Já sim, creio que mais de dez vezes. Sempre é prazeroso pra gente tocar em Goiânia, pois temos bons e velhos amigos aqui. O pessoal da banda Bang Bang Babies, toda a equipe da Monstro Discos, etc, e é sempre legal poder revê-los. Por sermos uma banda Monstro e termos tocado bastante na cidade, temos um público bem legal por aqui, que sempre lota os shows de forma frenética e divertida.

Para os shows em Goiânia, prepararam alguma coisa especial
?

Marky Wildstone - Sim, pretendemos tocar oito das dez novas composições na Ambientar, fazendo dessa forma um show de lançamento do novo álbum e contribuindo para o tema da mostra, que é Cinema. No Bolshoi, talvez toquemos menos temas do disco novo, mas com certeza faremos dois sets bem diferentes.

Quais são os planos da banda para o próximo semestre? Qual será o itinerário da turnê do novo disco?


Marky Wildstone - Temos uma turnê com o Fabulous Bandits agora em outubro que vai sair de Santa Catarina e vai até o Rio de Janeiro em quase 20 shows, durante um mês inteiro em um ônibus. Saiba mais no site http://fabulousbandits.com/deadbanditstour/


SERVIÇO
Show com The Dead Rocks - Lançamento do álbum Il Grilletto D´Oro

Quando: Hoje, a partir das 20h30. O filme The Good, the Bad and the Ugly será exibido às 18h30.
Onde: Mostra Ambientar 2010 (Av. T-9 esquina com T-30, Setor Bueno)
Ingressos: 2kg de alimento não perecível ou R$ 12
Informações: (62) 3097-1406

Quando: Amanhã, a partir das 22 horas
Onde: Bolshoi Pub (Av. T-2, esq. c/ R. T-53, Setor Bueno)
Ingressos: R$ 20
Informações: (62) 3281-6581

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O frescor do velho novo


Na próxima quarta (29), uma das maiores lendas vivas do rock mundial completa 75 anos. Trata-se de Jerry Lee Lewis, o The Killer, compositor e pianista americano cujo estilo único de tocar, martelando as teclas ora de pé, ora com a perna esticada em cima do piano, marcou gerações e ficará impresso para sempre no imaginário popular dos amantes da boa música. Dono de um inimitável topete e considerado um dos pioneiros do rock and roll ao lado de músicos como Chuck Berry, Lewis já figurou no Hall of Fame do Rock And Roll em 1986 e em 2005. Em 2004, a revista Rolling Stone colocou-o em vigésimo quarto lugar no seu ranking dos 100 melhores artistas de todos os tempos.

Assim como Elvis Presley, Lewis cresceu cantando música gospel nas igrejas pentecostais no sul dos Estados Unidos. Deixando a música religiosa para trás, ele tornou-se parte do recém-surgido movimento rock and roll, lançando sua primeira gravação em 1954 com um som misto de rhythm and blues, boogie-woogie, gospel e country.  

As apresentações de Lewis eram dinâmicas. Ele chutava o banquinho do piano da sua frente para poder tocar de pé, deslizava e batia suas mãos pelas teclas, subia no piano, pisava nas teclas e até mesmo sentava em cima delas. Chegou a botar fogo em um piano, jogando fluido de isqueiro dentro da cauda do mesmo, somente por ter de deixar Chuck Berry encerrar o show; fato que ele não aceitava. Seu estilo frenético pode ser conferido em filmes como High School Confidential e The Girl Can't Help It.

Para comemorar não só o aniversário, mas também os 55 anos desta carreira de sucesso, o músico lança agora Mean Old Man, uma verdadeira viagem sonora de aproximadamente 60 minutos na qual figuram alguns dos muitos amigos e admiradores que o artista acumulou ao longo da sua premiada trajetória. Entre os convidados estão ninguém menos do que Solomon Burke, Eric Clapton, Sheryl Crow, John Fogerty, Merle Haggard, Mick Jagger, Kid Rock, Kris Kristofferson, Nils Lofgren, Shelby Lynne, Tim McGraw, John Mayer, Willie Nelson, Keith Richards, Robbie Robertson, Slash, Mavis Staples, Ringo Starr e Ronnie Wood.

No repertório, além dos antigos e imortais clássicos de sua carreira, repaginados com uma vitalidade de dar inveja a qualquer franguinho da nova geração da música, novas canções também aparecem para provar que a verve criativa do The Killer continua intacta e bem afiada. O percurso trilhado em Mean Old Man é bem semelhante ao tomado em 2006 com Last Man Standing, que já trazia uma série de convidados, inclusive repetindo alguns dos hits chave desse período: Rockin My Life Away, que desta vez conta com as participações de Kid Rock e Slash, Middle Age Crazy, com Tim McGraw e Jon Brion, e a faixa-título, escrita para ele por Kris Kristofferson, são alguns destes hits.

Saindo em duas versões, uma delas de luxo, Mean Old Man foi produzido por Jim Keltner e Steve Bing, na velha e tradicional Memphis, em Los Angeles.

sábado, 18 de setembro de 2010

Arte moldada e viva

Localizado em Caruaru, no Agreste Pernambucano, Alto do Moura guarda o que há de mais genuíno na arte figurativa brasileira


Conhecido como a Princesinha do Agreste, Caruaru, município pernambucano localizado a cerca de 140 km de Recife, é famoso pelo mercado têxtil em crescente expansão e pelos ritmos variantes do forró que embalam as ruas da região durante todas as suas tradicionais festas populares. Porém, não é só dos balanços nordestinos e do ramo confeccionista que vive a Capital do Agreste. Quem visita a cidade não pode deixar de conhecer o Alto do Moura, uma pequena comunidade de artistas distante 7 km do centro da cidade onde vivem e trabalham mais de mil artesãos, em sua grande maioria filhos e netos de ceramistas tradicionais da região.

Uma das personalidades mais ilustres e emblemáticas da localidade é o Mestre Vitalino, um dos precursores no Brasil da chamada arte figurativa. Sua casa, atualmente transformada em museu, é uma das primeiras a despontar na rua de terra batida rodeada de pequenos casabres, todos tão humildes quanto a sua antiga morada. Hoje habitada pelos filhos e netos que deram continuidade à sua obra, o espaço é, a despeito da exacerbada simplicidade, objeto de visitação de gente do mundo inteiro, encantando os turistas pela riqueza de detalhes e cuidado com que a história da vida no sertão pode ser contada através do barro.

Se estivesse vivo, Vitalino já teria seus quase 101 anos. Porém, ao contrário de suas peças de barro já escurecidas pelo tempo, sua obra não envelheceu, servindo de referência estilística para a maioria dos bonequeiros locais.

É o caso, por exemplo, do Mestre Luiz Antônio da Silva, contemporâneo e discípulo direto do Mestre Vitalino. Com 75 anos de idade, 52 dedicados à arte, o artesão já teve seus trabalhos expostos em diversas partes do Brasil e do mundo. Há alguns anos, foi convidado a passar uma temporada no Japão. Foram 46 dias, nos quais produzou mais de 200 peças a partir de 100 kg de barro. Já em 1986, importou mais de 600 fusquinhas para a Alemanha. "As pessoas dão valor, especialmente as que conhecem o mundo e sabem que o que se faz aqui é diferente de tudo", afirma sem esconder o orgulho.

Além das usuais temáticas sertanejas presentes no cardápio iconográfico do Alto do Moura, Mestre Luiz Antônio traz um diferencial: é fácil perceber em seu acervo a presença constante da interação do homem com a máquina. Desse modo, pessoas munidas de máquinas fotográficas e filmadoras, eletricistas modificando instalações elétricas em postes e miniaturas de automóveis são recorrentes em sua coleção de bonecos.

Cenas do cotidiano


Se para nós a mistura soa inusitada, para Luiz Antônio é tudo um reflexo de suas experiências de vida e do processo histórico pelo qual passou o Alto do Moura. "Modelo no barro as coisas que vivo e as mudanças que experimento. Por exemplo, meu primeiro contato com uma filmadora de vídeo foi em uma ocasião há quase 30 anos em que uma equipe de TV esteve aqui na cidade. O equipamento acabou ficando na minha casa, e por curiosidade eu resolvi reproduzir as formas e incluir nas minhas criações", conta.

Representando sua vida no barro, como ele mesmo gosta de dizer, Luiz Antônio também é famoso pelas réplicas de pároco, que remetem a um de seus filhos que é padre, e dos carros de fórmula um, lembrança da data de morte de Ayrton Sena. "Sempre transportei para o terreno das artes as cenas do meu cotidiano, da minha família e da minha comunidade", explica.   

Sem medo de romper padrões

Outra cena bastante recorrente na obra do mestre Luiz Antônio são os partos, tanto humanos quanto veterinários. "Minha mãe era parteira, daí a ligação tão forte com o tema. Dos meus 10 filhos, apenas um não nasceu por suas mãos. Porém, quando eu iniciei a produção de algumas peças com essas características, todos ficavam horrorizados, falavam que era uma coisa feia, que não devia ser retratada", explica. Apesar disso, o mestre nunca teve medo de modelar o que fazia sentido para si, independente da opinião das outras pessoas. "Tem coisa mais bonita e mais humana do que nascer?", brinca.

Herança em forma de arte       

Atualmente, Luiz Antônio e sua esposa Odete possuem 10 filhos e 22 netos, a maioria empenhada em aprender e repassar para as próximas gerações a arte do barro e da criação artística. "Dos meus 10 rebentos, apenas dois não vivem mais no Alto do Moura. O restante, juntamente com sua prole, mora aqui e tira sustento da arte, da produção feita a partir do barro", conta, orgulhoso.

Porém, apesar da união artística familiar, cada um possui o seu espaço, o que segundo seu Luiz resguarda a identidade de cada artista. "Só vendo o que eu faço, nem os meus filhos vendem aqui na minha loja. Cada um tem o seu próprio empreendimento, sua rotina de trabalho e sua maneira de lidar com o barro", explica.

Aliás, no quesito produção, o Mestre Luiz Antônio é um crítico ferrenho do chamado artesanato de forma, que utiliza moldes para manter uma certa padronização nas peças. "Detesto quem trabalha com forma, pois descaracteriza completamente a arte do barro, pautada nas características individuais e únicas de cada peça e no toque que o artista dá para suas criações", afirma.

Resgate e conservação

Pensando no futuro, o mestre Luiz Antônio já prepara, no andar de cima de sua loja, a inauguração de um museu com suas obras, que contará com o apoio da prefeitura de Caruaru. "Quando o Vitalino morreu, deixou pouquíssimas peças. Da mesma forma o Zé Caboclo, que o Jackson do Rio, dono da maioria do acervo restante, acabou devolvendo para família em respeito à memória de sua obra. Não quero que o mesmo aconteça comigo, por isso, pretendo inagurar o museu enquanto eu ainda estiver vivo, para que eu possa deixá-lo com a minha cara e rico o suficiente para que possa de fato resgatar tudo aquilo que eu produzi de melhor", explica o artesão.

Recentemente, para alegria dos amantes e apreciadores da arte, o Alto do Moura foi considerado pela Unesco como o Maior Centro de Artes Figurativas da América Latina, o que garante os investimentos e cuidados necessários para a manutenção desta arte viva que pode ser vistas pelas ruas da comunidade. E você visitante, quando visitar Caruaru, não deixe de conhecer o lugar, que proporciona uma verdadeira viagem aos confins da memória e da vida no sertão. Obrigatório.    

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma ode à humanidade e suas miudezas

Com direção de Lua Barreto e texto de Millôr Fernandes, Grupo de Teatro Bastet apresenta A história é uma istória e o homem o único animal que ri


Com texto de Millôr Fernandes e direção de Lua Barreto, o Grupo de Teatro Bastet apresenta amanhã, às 21 horas, e domingo, às 20 horas, no Teatro de Bolso Cici Pinheiro, o espetáculo A história é uma istória e o homem o único animal que ri. Trazendo os atores Sandra Santiago e Thiago Moura no elenco, a peça aborda a evolução do homem de forma crítica e reflexiva, derrubando os mitos, questionando os ídolos e ridicularizando os grandes feitos da humanidade através da ótica dos excluídos.

Com a acidez e o sarcasmo que são marca registrada de Millôr, a montagem aposta no poder do ator-narrador, através de sua habilidade em criar sinuosidades e transmutar-se em diferentes personagens. O texto, narrativo e de conteúdo político-filosófico, trata da história do homem desde os primórdios até a atualidade, tocando em temas espinhosos como a corrupção e a crescente alienação da massa.

Trabalhando com diversos níveis de compreensão, o espetáculo alimenta-se da ironia e do sarcasmo do impagável humor milloriano, o que dá ao trabalho seu tom questionador e atual. Com cenário de Daniela Fiuza, figurinos por Elmira Vicente, preparação musical por Maria Angélica Pantarotto e composições por Jorge Beat, o que a peça procura é instigar a platéia a refletir sobre o seu próprio tempo, percebendo o valor das miudezas do cotidiano comum.

SERVIÇO
Espetáculo A história é uma istória e o homem o único animal que ri - Grupo de Teatro Bastet
Quando: Amanhã, às 21 horas; e domingo, às 20 horas
Onde: Teatro de Bolso Cici Pinheiro (Av. Anhanguera, esq. com Rua R-1)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: (62) 3524-2542

Ruptura medieval no palco do Zabriskie

Inspirado na obra máxima do italiano Giovanni Boccaccio, Decameron explora duas das cem histórias do dramaturgo
 

Com criação e direção colaborativas por Ana Cristina Evangelista e elenco, o Grupo Zabriskie apresenta hoje e amanhã, a partir das 21 horas, no Zabriskie Teatro, o espetáculo Decameron, inspirado na obra do italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375). Escrita em meio a peste negra que assolou a Europa durante a Idade Média, Decameron é considerada a obra máxima do dramaturgo, trazendo uma coleção de cem novelas escritas por Boccaccio entre 1348 e 1353. Além disso, o texto pode ser compreendido como um marco literário na ruptura entre a moral medieval, na qual existia a valorizava do amor espiritual, e o início do realismo, iniciando o registro dos valores terrenos que vieram a redundar no humanismo.

Escrita originalmente em dialeto toscano, a peça conta a história de dez jovens que se recolhem a uma casa de campo para fugir das cidades tomadas pela pandemia que dizimava impiedosamente o continente europeu. Durante dez dias, e apesar da adversidade total que toma conta do recinto, os personagens ainda conseguem celebrar a vida contando histórias de amor em seu refúgio campestre.


Com patrocínio do Prêmio Funarte Myrian Muniz de Teatro, Ana Cristina Evangelista e os atores Alexandre Augusto, Ciça Ribeiro e Natasha Witkowski fizeram uma livre adaptação de duas das cem histórias que se passam neste ínterim: a primeira de como Alibeque faz-se eremita, e o Monge Rústico ensina-lhe como se faz para reenviar o diabo ao inferno; e a outra de como, depois de ter comido certo pó, Ferondo é enterrado como se estivesse morto.


O diálogo com Decameron foi viabilizado por meio do grotesco. A máscara bufa, oriunda da Idade Média, é o espelho deste grotesco, refletindo uma comicidade popular do erro, da insanidade, da desorganização e do caos carnavalesco. "Resgatamos essa festividade caótica para parodiar a sociedade desregrada, fragmentada e tensa em que vivemos hoje. O medo e a insegurança, a solidão, a violência, o misticismo e o refúgio nos extremismos religiosos fazem parte do nosso cotidiano e é sobre ele que voltamos o nosso olhar crítico", explica Ana Cristina Evangelista, que além da direção assina também o figurino.


Com preparação vocal e criação musical por Maria Angélica Pantarotto, cenografia por Edith Lotufo e Pipa Design e fotografia por Layza Vasconcelos e Paulo Rezende, o espetáculo conta com a participação do ator convidado Deidian Lucas. Durante o mês de setembro, a peça ficará em cartaz no Zabriskie Teatro todas as sextas e sábados.


SERVIÇO

Espetáculo Decameron - Grupo Zabriskie
Quando: Hoje e amanhã, às 21 horas
Onde: Zabriskie Teatro ( Rua 148, N° 248 St Marista)
Ingressos: R$20 (inteira). Meia entrada para estudantes, idosos e apresentando na bilheteria qualquer tipo de material de divulgação impresso
Classificação: 16 anos
Informações: (62) 3093-5542 ou www.zabriskie.com.br

sábado, 11 de setembro de 2010

A nova arte do século 21

Ars Electronica, o maior e mais antigo festival de arte midiática do mundo, conta com instalação interativa do artista multimídia goianiense Hugo Camargo 






Maior e mais antigo festival de arte midiática (também conhecida como new media art ou electronic art) do mundo, o Ars Electronica Festival chega este ano à sua 31ª edição com o tema "Repair – Ready to pull the lifeline", ou em bom português, "Reparo - Pronto para puxar a linha da vida", que acontece de 3 a 11 de setembro na cidade de Linz, na Áustria. Apostando na arte sustentável como alternativa ao mundo industrial pós-moderno no qual vivemos, esse ano o evento está sendo realizado pela primeira vez em uma antiga fábrica de tabaco, a Tabakfabrik, um espaço de proporções generosas que guarda em suas características arquitetônicas traços marcantes da industrialização.

Dentre os expositores, encontra-se o artista goianiense Hugo Camargo, 28, que atualmente mora em Viena, na Àustria, onde participa do programa internacional de mestrado "Interface Cultures" (Culturas da Interface), oferecido pela Universität für künstlerische und industrielle Gestaltung Linz (Universidade de Artes e Design Industrial de Linz). Antes disso, Hugo viveu quatro anos em Florença, na Itália, onde se graduou, no ano passado, em "Discipline dello Spettacolo in Arti Visive" (Disciplinas das Artes Visuais e do Espetáculo) pela Libera Accademia di Belle Arti di Firenze (Libera Academia de Belas Artes de Florença).

"Sou um artista multimídia, trabalho com arte eletrônica, arte feita com computador - ou não, mas sempre algo relacionado à condição homem/computador/meio. Recentemente, comecei a me aventurar também no campo da curadoria e da preservação de arte realizada com novas mídias (new media art). Minha pesquisa artística se concentra principalmente nos terrenos da arqueologia midiática e instalações interativas", explica o artista.

Na Ars Electronica 2010, Hugo integra a exibição "Playful Interface Cultures" (algo como Jogando/Brincando com a Cultura de Interface), com curadoria do experiente pesquisador Georg Russegger, diretor do mestrado "Ludic Interfaces" (Interfaces Lúdicas) da Universidade de Artes e Design Industrial de Linz. Segundo Hugo, o termo "playful", que também significa lúdico, sugere como ver as coisas por uma perspectiva diferente, e não necessariamente a ideia de jogo que a tradução literal nos proporciona. "Um novo olhar, mais impregnado de ludicidade nas relações homem/máquina/sociedade é o foco maior da exibição", explica.

Arte através de um telefone celular

A obra assinada por Hugo, realizada com a colaboração da artista austríaca Veronika Pauser, foi batizada de "Mohr SMS", e consiste numa instalação interativa onde a tela de um telefone celular é usada como tela de um quadro para produzir arte generativa. Com raízes na arte conceitual, a arte generativa trabalha a construção de um objeto/sistema apoiado em mecanismos parcialmente exteriores ao artista que, com alguma autonomia, geram trabalhos segundo regras instauradas pelo autor. Ou seja, o artista cede a função de exercer a construção do objeto e decide-se por uma passagem para um meta-nível onde cria um conjunto de instruções.

A instalação em questão se resume a um telefone celular conectado a uma tela de LCD emoldurada e um sinal onde se fornece o número do telefone. Dessa forma, "Mohr SMS" permite que as pessoas adicionem elementos gráficos em tempo real através de mensagens de texto, que assim que enviadas são decodificadas através de algoritmos que as traduzem em traços que percorrem seus caminhos dentro da tela até formar um emaranhado de linhas de diferentes tamanhos e espessuras.

O resultado, embora possa parecer, nunca é randômico: cada mensagem corresponde a um determinado algoritmo, onde características como a utilização de espacos, tamanho das palavras e utilização de pontuação determinam o resultado visual de cada mensagem de texto.

A mesma mensagem gera sempre o mesmo algoritmo e, consequentemente, a mesma imagem na tela. A cada 10 mensagens, a tela volta ao seu estado inicial, permitindo que outra imagem possa ser construída. As obras anteriores são armazenadas para posteriormente serem disponibilizadas no website oficial da instalação (www.mohrsms.com).

A arte generativa de Manfred Mohr
 
Hugo explica que o algoritmo é baseado na obra de Manfred Mohr, artista alemão que foi um dos pioneiros da arte generativa no mundo. "Esteticamente, Mohr SMS presta homenagem a obra "P18" de Manfred Mohr, de 1969. Manfred Mohr escreveu algoritmos que, uma vez no computador, produziam imagens sem nenhuma intervenção humana, dando à máquina uma autonomia nunca antes vista no mundo da arte. Mohr SMS repropõe a arte generativa adicionando o fator interatividade. De uma forma simples, onde se pode participar com qualquer tipo de telefone celular (independente da tecnologia de cada celular), o espectador é parte essencial da obra, que consiste principalmente no algoritmo aliado à interação. Uma espécie de pintura virtual coletiva onde a obra não é completa sem a interação do espectador", explica o brasileiro.

Isso porque, sem mensagens de texto enviadas, a tela permanece branca, como um quadro a se fazer. Daí o nome da obra, uma alusão ao pioneiro da arte generativa, Manfred Mohr, e também um trocadilho com o fato de que, para existir, a obra de arte precisa da interação do espectador, precisa de mais mensagens de texto ("more sms").

Obra premiada


A obra tem tido uma ótima recepção durante o Ars Electronica 2010, tendo recebido o 2º lugar do Prêmio da Crítica dentro da exibição Playful Interface Cultures. Além disso, Hugo acaba de ser selecionado para um festival em Istambul, na Turquia, em novembro, e já está negociando exposições pela Europa e Estados Unidos.

Até agora, o artista goianiense já teve seus trabalhos expostos no "Athens Video Art Festival 2007", em Atenas, na Grécia; "Networking Eyes 2007", em Florença, na Itália;  "NewMediaFest [Slowtime 2007 - Quicktime as an artistic medium]" que foi exposto virtualmente no website do festival e fisicamente em diversos países, como Alemanha, Portugal, Argentina, Sérvia, Índia e Espanha; "Rassegna Giovani Artisti 2008", exibição na qual participaram apenas trabalhos de artistas localizados na região Toscana italiana (Capraia, Itália); e "Tools for Revolution or Just for Sale" (Ferramentas para Revolução ou Apenas Para a Venda) em 2009, também em Florença, na Itália.

Indagado sobre a vontade de expôr no Brasil, Hugo afirma achar até curioso o fato de já haver exposto em tantos lugares do mundo em tão pouco tempo e ainda não ter rolado no Brasil, mas revela que possui planos de trazer sua arte para a terra pátria. "Estou planejando uma mostra para Goiânia como curador, e terá um trabalho meu nela. Talvez o fato de eu morar fora tenha me distanciado um pouco da cena local, já que perdi os contatos com curadores e artistas de Goiânia. Porém, penso que promover algo no campo de artes com novas mídias pode abrir caminhos não só para mim, mas para vários outros artistas locais com uma produção que foge um pouco da arte convencional já feita na cidade", adianta.

Para conhecer mais sobre o artista, acesse www.hugocamargo.com.

Mistura musical para ouvir e sentir


Desde o início da carreira, há cerca de 15 anos, o Jaga Jazzist tornou-se um fenômeno musical na Noruega, baseando sua cozinha sonora em um nu-jazz bem experimental com pitadas de post rock e música eletrônica. Seu estilo poderia ser definido como uma mistura de ícones do avant-garde jazz, como Charles Mingus, John Coltrane e The Soft Machine, com a sonoridade das bandas experimentais contemporâneas, como Stereolab, The Cinematic Orchestra e Tortoise.

Formado pelos irmãos Horntveth, o grupo começou mais influenciado pela música eletrônica, e contava inicialmente com apenas três integrantes. Do som quase todo digital, evoluíram ao longo dos anos ao incorporarem também elementos do post rock e do jazz, adicionando ao som eletrônico instrumentos como tuba, saxofone, piano, trompete, guitarra e baixo. Dessa forma, a banda cresceu e atualmente é composta por nove músicos, quase todos envolvidos em outros projetos e empreitadas solo. Bastante particular, a sonoridade do grupo propõe uma mistura dicotômica entre o jazz analógico e o eletrônico, entre a música erudita e o post rock.

Embora longe do ineditismo de alguns álbuns anteriores, One-Armed Bandit, lançado este ano, inspira uma viagem profunda, daquelas de fechar os olhos e deixar a música tomar as rédeas. Talvez resultado da batida hipnótica, talvez apenas um efeito da candura da sonoridade instrumental, que por vezes remete ao embalo das trilhas sonoras. Destaque para a música Toccata, na qual piano e sintetizador criam essa viagem intensa, de tensão e redenção. Música para ouvir, mas mais que isso, para sentir.

A música de brinquedo do Pato Fu


Criada em 1992 em Belo Horizonte, Minas Gerais,  Patu Fu sempre foi uma banda diferente, sem medo de brincar com sua própria formação e de se aventurar por novos terrenos conceituais e sonoros. Prova disso é o novo disco do grupo, lançado recentemente sob o título de Música de Brinquedo: gravado inteiramente com instrumentos de brinquedo, o álbum relembra grandes sucessos da música mundial com uma roupagem impregnada de um lirismo doce e da suavidade típica da infância. Entre os sucessos repaginados estão Todos Estão Surdos, Pelo Interfone, Sonífera Ilha, Rock and Roll Lullaby, My Girl e Love Me Tender. 

Se no repertório não há nenhuma novidade, não pense que se trata de uma fase pouco criativa na família Takai. Pelo contrário. Apelando diretamente para a memória afetiva dos ouvintes, o grupo escolheu o time de canções à dedo, confirma explica o guitarrista e produtor da banda, John Ulhoa: "Estamos acostumados a ir juntando material inédito, novas composições, letras, melodias soltas ao longo de uma turnê, pra gerar um disco novo ao final. Isso nunca parou, e de fato temos um tanto de material que poderia ser justamente o ponto de partida para um novo álbum de inéditas. Mas esses arranjos de brinquedo teriam um efeito muito mais potente se aplicados a canções conhecidas. Aí é que estava a graça: colar essa sonoridade em clássicos do pop, recriar todas as frases melódicas de músicas que não fossem só conhecidas, mas que tivessem arranjos emblemáticos. O que procuramos é o prazer de ouvir velhas canções adultas em seus arranjos originais, tirados praticamente nota por nota, só que com instrumentos de brinquedo", conta.

Outro detalhe interessante e encantador são as vozes infantis, presentes em quase todas as músicas do registro. O coro, feito por Nina Ulhoa, filha de Fernanda e John, e Matheus D'Alessandro, amigo dela da escola, ambos com 6 anos, trouxe um sopro de espontaneidade e sinceridade ao disco, sem, contudo, deixar o trabalho com cara de disco infantil. "Não queríamos aquela sonoridade “coral de crianças”, e sim pequenas participações, marcantes e carregadas da inocência e desafinação pura de espírito que só as crianças conseguem. Acho que conseguimos, e foi um aprendizado e tanto", afirma John.

Em entrevista que você confere a seguir, John falou um pouco sobre a motivação que os levou a encampar o projeto, as dificuldades na captação de som dos brinquedos e os planos para o próximo semestre. Confira:
  
Como e quando surgiu a ideia de utilizar os instrumentos de brinquedo para gravar um disco?

John Ulhoa - Ouvimos algo parecido com isso há muito tempo, em 1996. Era um disco da série Classiks On Toys, com músicas do Beatles tocados em instrumentos de brinquedo pela turma do Snoopy e Charlie Brown. Mais recentemente, com a chegada dos filhos, brinquedos musicais passaram a frequentar nossas casas. E, aos poucos, começamos a testá-los em estúdio. Logo percebemos que era possível gravar tudo somente com eles e a ideia nos pareceu tentadora demais para ser deixada de lado.
Foi complicada a adaptação dos frágeis instrumentos de brinquedo às necessidades sonoras da gravação? Qual foi o maior desafio?

John Ulhoa - Eles são difíceis de serem tocados - pelas suas dimensões, difíceis de serem combinadas - pela afinação vacilante da maioria, e pela facilidade de quebrar. Além disso, quase nenhum tem escalas completas, o que fazia com que juntássemos três ou quatro "glockenspiels" de latão diferentes para obter a melodia que queríamos. Mas tudo isso era compensado pelo fato de o que buscávamos não era uma sonoridade perfeita e sim aquele clima de brinquedo, e as imperfeições fazem parte dele.
 
Como foi a escolha do repertório?

John Ulhoa - Buscamos coisas de nossa memória afetiva... e canções que tivessem algo na parte instrumental que fosse bem marcante: uma introdução, um solo... Queríamos que fossem não só músicas conhecidas, mas que os arranjos fossem conhecidos. E foi também intencional a inclusão de músicas em outros idiomas, pra tornar a coisa ainda mais universal.
 
Como foi o clima de comandar as crianças? Rolou em ritmo de festa ou teve momentos de seriedade?

John Ulhoa - Foi só brincadeira. Nade de tentar cantar afinadinho, não queríamos aquela sonoridade de "coral infantil". Elas eram apresentadas às músicas na hora, microfone o tempo todo ligado e elas cantando do jeito mais espontâneo possível. E sempre rápido, pra não cansar. Ficavam ali durante uma hora, depois iam brincar de outra coisa. E fizeram isso umas três vezes só.
 
A turnê do disco será feita com os próprios instrumentos de brinquedo? Como será a adaptação para os shows?

John Ulhoa - Sim, incluiremos canções do Pato Fu, mas também com os brinquedos. Nos shows utilizamos os mais "tocáveis", os que resistem um pouco mais e possam ser um pouco mais versáteis. E temos mais pessoas para tocá-los, por isso, não usaremos nada pré-gravado. Foi uma pesquisa grande para saber como captar o som de cada um, é um quebra-cabeça técnico, mas funcionou muito bem.

Quais são os planos para o próximo semestre?


John Ulhoa - Faremos o máximo possível de shows dessa turnê, e começaremos a pensar num DVD que registre tudo isso!