quinta-feira, 29 de abril de 2010

Confusão em torno de show estrangeiro

Organizadores do evento Abba - The Show esclarecem polêmica: não se trata de revival da banda sueca e sim de apresentação com dois músicos de apoio da primeira formação do Abba
 Um mal entendido tem deixado fãs e admiradores da banda sueca Abba, que encerrou suas atividades em 1982, afoitos. Trata-se do Abba - The Show, estampado em diversos muros e fachadas da Capital, que se apresenta em Goiânia no próximo dia 13, no Sol Music Hall. Porém, ao contrário do que muitos pensam, não se trata de um revival do quarteto formado por Agnetha Fältskog, Benny Andersson, Björn Ulvaeus e Anni-Frid Lyngstad. Segundo os organizadores Rafael Moraes e Maikell Rosa, o que sobe ao palco goiano é um grupo “cover” chamado Waterloo (homenagem ao disco homônimo de 1974), que conta com a participação dos músicos Ulf Andersson e Janne Schaffer, respectivamente saxofonista e guitarrista originais da primeira formação da banda.

Com estreia mundial no Royal Albert Hall, de Londres, o musical Abba - The Show é considerado a mostra mais autêntica do grupo sueco até agora, tendo sido inclusive reconhecida pelos membros originais, Bjorn, Benny, Agnetha e Anni, além de obter o licenciamento de seus produtores oficiais. A apresentação em Goiânia traz ainda, com exclusividade, a participação de dez integrantes da National Symphony Orchestra de Londres, que, sob a regência do maestro Matthew Freeman, apresentarão canções clássicas que colocaram todo mundo para dançar nas pistas das discotecas dos anos 70, como Waterloo, SOS, Mamma Mia, Dancing Queen, Money Money Money, Knowing Me Knowing You e Rock Me.
 
Com uma megaestrutura de iluminação, imagem e som, Abba - The Show já acumula sucesso fenomenal em todo o mundo, alcançando recordes de bilheterias em países como Estados Unidos, Canadá, Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Áustria, Suíça, Inglaterra, Itália e Japão. Pela primeira vez na América do Sul, o grupo tem apresentações agendadas para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Goiânia.

Foto: Ulf Andersson e Janne Schaffer, únicos músicos remanescentes do Abba original a se apresentarem em Goiânia.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Beco transformado em arte

Com o objetivo de revitalizar este espaço tão importante que é o beco, o Festival de Arte Urbana traz oficinas, desfiles e apresentações musicais e teatrais  


A primeira coisa que vem à cabeça quando se trata de beco é um lugar sujo, mal frequentado, feio e abandonado. Na maioria das vezes, esse esteriótipo não foge mesmo à realidade, porém, o que muita gente não sabe é que esses espaços, tão abundantes na cidade de Goiânia, carregam traços arquitetônicos e intervenções artísticas importantes da história da Capital, configurando-se como um relevante espaço de socialização, resgate das raízes e escambo cultural. Foi pensando nisso que surgiu o Festival de Arte Urbana – Beco d'Arte, que busca resgatar esses pontos da cidade, pouco contemplados pela sociedade, onde o processo de urbanização conseguiu criar forte expressão artística e representação cultural.

A primeira edição será realizada amanhã, a partir das 14 horas, no Beco da Rua 8, no Centro, e contará com desfiles de moda, música, exposição de fotografia e artes plásticas e oficinas de arte, tudo acontecendo ao mesmo tempo e com entrada franca. Trabalhos de mais de quinze artistas plásticos, seis designers de moda, exposição fotográfica de diversos pontos de Goiânia (evidenciando os locais onde a arte urbana é mais expressiva e menos apreciada), além de performances dos grupos participantes do Festival Nacional de Teatro, farão parte do evento, que tem o Apoio da Prefeitura Municipal de Goiânia, Cia Oops de Teatro e Pavio Soluções Filosóficas.

"Quando iniciamos a concepção de um festival voltado para o espaço do Beco, a pergunta norteadora foi: qual a melhor maneira de revitalizar um local com essas características? A resposta veio em uníssono: injetando-lhe a nova arte urbana da Capital, oras! Arte urbana é isso, pluralidade, vibração e presença em qualquer lugar", afirmou o organizador do evendo, Kaio Bruno.

Dentre os destaques do festival, está a artista plástica Luciana Faria, autodidata em desenho e pintura até os 17 anos e acadêmica do curso de Design Gráfico da UFG. A jovem já acumula um currículo de duas exposições, uma no Hard Night, festival de música realizado no DCE da PUC, e outra no Sarau de Literatura Letra Livre, promovido no Centro Cultural Goiânia Ouro. No Festival de Arte Urbana, Luciana ministrará duas oficinas - pintura e desenho - voltadas para público infanto-juvenil, além disso de expor, a partir das 16 horas, alguns de seus trabalhos.

Outro destaque é a designer de moda Naya Violeta, que apresentará ao público o desfile da coleção “Leite de Trevo”, inpirada no caos urbano com algumas pitadas do cerrado brasileiro. "Intervir, no meio do barulho do trânsito, permitir-se tocar, entrar, fazer parte, misturando elementos de superstição, trelelês da cabeça e no coração monogramas em bordados e desenhos. A coleção se divide em partes, e coloca o público no meio dessa contradição, interagindo com o tecido, permitindo a ele expressar-se como construção para a criação. As influências do cerrado brasileiro se misturam com crescimento de um povo que vive em becos, barracos, buracos, e diversos lugares e espaços", explica a estilista. 

O evento também é fruto de uma parceria com as lojas Cherryland, Lady Hanna, Fabulosas Desordens e Boca de Porco, que durante o festival estarão expondo as últimas novidades da moda alternativa.


SERVIÇO

Festival de Arte Urbana – Beco d’Arte
Quando: Amanhã, dia 24 de abril
Hórario: a partir das 16 horas
Local: Beco da Rua 8, Centro
Entrada franca

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Expressão através da colagem

Detentor de um talento surpreendente, o goiano João Colagem retorna ao Brasil para exposição de uma súmula do trabalho desenvolvido por ele nos últimos 12 anos em que residiu na Holanda
 

Goiano nascido em Trindade, autodidata e pesquisador das possibilidades que a celulose oferece para a criação um novo universo visual, o artista plástico João Colagem apresenta nesta sexta, a partir das 20 horas, no Adress Hotel, a exposição Ímpar, que reúne os trabalhos realizados nos últimos anos em seu ateliê em Roterdã, na Holanda, onde reside desde 1997. Lá, o artista desenvolve pesquisas e trabalhos embasados na história da arte e da cultura holandesa, já tendo participado de diversas exposições e premiações de relevância mundial. Seu regresso à Goiânia deveu-se ao convite do ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás (Sectec), Joel Sant'Anna Braga Filho, e da produtora cultural Kátia Barreto, que fizeram questão de sua presença no lançamento do livro Telas da Alma II - Pincéis que tocam Goiás, do escritor Alysson Assunção. Aproveitando a estada, o artista realizou exposição individual no evento de inauguração da galeria de arte do Teatro-Escola Basileu França e da abertura da temporada artística da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás.

Para a noite desta sexta, João preparou muitas surpresas e novidades para os apreciadores de seu trabalho. "A partir das 8 horas, eu e a Kátia Barreto estaremos recepcionando os convidados, e por volta das 8h30 daremos início a uma surpresa especial para nossos visitantes. Preparem-se", adiantou o artista.

Em entrevista ao DMRevista, João falou da obra na qual está envolvido há cerca de cinco anos, concebida como uma tríade, formada pelos braços esquerdo e direito e por um eixo central, que simboliza o proprio âmago de seu autor. "O projeto Resgate da Memória Perdida é considerado o braço direito, e consiste em uma série de oficinas de arte e colagem voltada para crianças, adolescentes e arte-educadores. Iniciado em 2006, o trabalho concretiza a proposta de intercâmbio cultural com artistas holandeses e tem como foco o despertar criativo e a estimulação da dinamização intelectual dos jovens para expressão individual ou coletiva", explica o artista, que em 2008 realizou a primeira mostra deste projeto na Câmara Municipal de Trindade. Programada para durar quatro semanas, a exposição precisou ser prorrogada devido à enorme visitação. "Conseguimos trazer 200 crianças para o projeto, e com a primeira mostra, que teve mais de 1500 visitantes, ficou clara a aceitação e o interesse despertados na comunidade", comentou.

Já o braço esquerdo foi iniciado ainda em 2005, tendo como principal objetivo agregar valores visuais diferenciados através da troca intelectual e criativa de diversos artistas. Batizado de Colagem Coletiva, o projeto reuniu os holandeses Gerald de Bruin, Michele van Dijk e Annet Scholten, que juntos embarcaram com João no desafio da busca pela inserção de diversas linguagens e visões em um único corpo, unindo valores por uma ação essencialmente coletiva. "Me admirei com o dinamismo, organização, disciplina, pontualidade e interesse pelo coletivo presentes nos artistas holandeses com os quais trabalhei. E estes são aspectos profissionais que abrangem e engrandecem as diversas linguagens no segmento das técnicas de colagem, como animação, ilustração e instalação. Atualmente, a Colagem Coletiva já conta com currículo internacional, entrando agora em sua 8ª edição com participação de goianos como Alana Morais, Wemerson Dhamasceno, The Alves e André Bragança. Já recebemos a proposta de um galerista para execução de uma mostra internacional que se transformará em um grande festival de colagem em Roterdã", adianta João.

Enquanto os braços direito e esquerdo se focam no social, humanitário e coletivo, o eixo central é o própria essência de João Colagem, aliando a percepção funcional na execução das mostras com a estabilidade de sua pessoa enquanto artista. "O eixo central é a minha fé, minha cosmovisão e concepção de mundo. Adquiri, com o passar dos anos, o entendimento de que os canais de interpretação podem passar pelo racional, intelectual e emocional no momento de captação de ideias que fluem do universo criativo. Dessa forma, a mostra Ímpar não é individualista, mas sim uma partícula que integra o todo. Não é estagnação, pelo contrário, consiste na associação para um bem que é coletivo, na singularidade de cada componente deste coletivo", afirma.

O acervo da mostra vem sendo trazido ao Brasil há cerca de cinco anos, e atualmente já conta com cerca de 40 obras calcadas em diversas linguagens visuais. "Os trabalhos foram escolhidos explicitamente para mostrar ao público brasileiro o processo pluralista das composições, dando ao espectador a possibilidade de ver, sentir e comparar o salto que a técnica agregou à minha trajetória nos últimos 12 anos", comentou.   

Após a mostra, realizada exclusivamente na noite do dia 23, o artista retorna para a Holanda para a execução de algumas xposições, porém, as obras expostas serão deixadas aos cuidados de Kátia Barreto, que representa oficialmente o nome de João Colagem em Goiás. Sua ausência de 12 anos criou um filão de mercado, aumentando a demanda por seus trabalhos, motivo pelo qual muitas das obras da mostra já terem sido comercializadas antes mesmo de sua inauguração. Quem tiver interesse em conhecer o trabalho do artista ou adquirir uma de suas obras pode entrar em contato com Kátia pelo fone 9611-3762.

O novo site do artista (www.colagem.com) já está disponível para visitação, porém, somente na língua holandesa. "Em breve estaremos lançando o site em inglês e português, mas enquanto isso não acontece, os brasileiros podem conhecer meu portfólio através do endereço virtual", afirmou.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quanto mais Trash, melhor

Voltado para um cinema espontâneo e sem frescura, o mais divertido evento goiano do audiovisual chega à sua 5ª edição trazendo convidados de peso para suas mostras, oficinas e debates


Começa hoje, com abertura as 19h30, no Centro Cultural Goiânia Ouro, a Trash - 5ª Mostra Goiana de Filmes Independentes, promovida pela Monstro Discos com curadoria de Márcio Jr. e Márcia Deretti. A mostra, que acontece de 15 a 18 de abril, fará a exibição de filmes de diversos formatos para promover a produção alternativa e de baixo custo, proporcionando um espaço para discussão e reflexão de quem de alguma forma colabora ou simpatiza com esse meio. Realizado desde 1999, o evento consolidou-se como um dos mais importantes espaços destinados à veiculção de filmes deste segmento, e este ano traz novidades como a participação do capixaba Rodrigo Aragão, audacioso realizador do longa “Mangue Negro”, que abrirá o festival.

Diretor de filmes como Chupa Cabras e Peixe Podre, Aragão também ministrará a oficina “Maquiagem para Filmes de Terror”, cujo resultado poderá ser conferido na 2ª Zombie Walk Goiânia, a passeata de zumbis que encerra a mostra, no domingo. Com carga horária de 12 horas, o minicurso introduzirá noções sobre a história da maquiagem, conhecimento de materiais, produção de pigmentos, fabricação de sangue, maquiagem de duas e três dimensões, além de trasformação através de massa moldável e construção conceitual e física de personagens.

A Trash deste ano também contará com a participação de outro convidado ilustre: o cineasta carioca Christian Caselli. Conhecido nacionalmente por filmes independentes de baixíssimo orçamento e alto grau de invenção, Caselli terá uma retrospectiva de sua obra apresentada na Trash em duas sessões, uma na sexta, às 22h, e outra no domingo, às 17h.

Além disso, estará à frente da oficina “Realismo Falcatrua" que, assim como a de maquiagem, tem vagas limitadas e é gratuita. Tendo como único requisito possuir um celular com câmera, o estudo abordará a expressão audiovisual através deste tipo de material, aproveitando a "má qualidade" proporcionada pelas câmeras de celular como estilo e dando um toque de realidade ao material produzido. 

Jairo Ferreira e o Cinema de Invenção

Nesta 5ª edição, a Trash presta homenagem ao mais poético e anárquico pensador, crítico e autor do cinema brasileiro, o paulistano Jairo Ferreira. Com curadoria do produtor Paulo Sacramento (foto), um dos maiores especialistas em sua obra, a Mostra Jairo Ferreira terá início às 17h do sábado e exibirá os filmes "O Guru e os Guris", "Nem Verdade Nem Mentira", "Horror Palace Hotel" e "Metamorfose Ambulante ou As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thoth".

Para discutir o Cinema de Invenção de Jairo Ferreira, além de Paulo Sacramento, a mesa redonda contará com a presença do legendário cineasta da Boca do Lixo, Carlos Reichenbach. Dois de seus longas mais emblemáticos serão exibidos durante o festival: Filme Demência, de 1985, e Garotas do ABC, de 2004. Jairo e Reichenbach foram parceiros em diversas produções cinematográficas, inventiva e marginalmente.

Destaque goiano

De caráter não-competitivo, a mostra exibirá 109 obras, sendo 11 de produção goiana, 96 de outros Estados (Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Rondônia, Ceará, Alagoas, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo) e duas de outros países (Espanha e Estados Unidos/Argentina). Pela pluralidade de temas e atividades, a organização do evento espera a participação de cerca de cinco mil pessoas no decorrer do festival. 

Dentre os curtas goianos, o destaque é para a estréia de “O demônio veio do céu”, direção coletiva que será apresentada na quinta, 23h. Com cenas gravadas em vários pontos da cidade, entre eles o Cemitério Santana, o curta apresenta um registro da visita de José Mojica Marins à Goiânia em 2001 por ocasião da divulgação de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”. O documentário é dedicado à memória do saudoso crítico e cineasta goiano Beto Leão, que participou da equipe de produção, fazendo a consultoria e as entrevistas com o criador do personagem mais relevante do imaginário cinematográfico brasileiro.

SERVIÇO

TRASH – 5ª Mostra Goiana de Filmes Independentes
15 a 18 de abril - Centro Cultural Goiânia Ouro
Rua 03, esquina com Rua 09, nº 1016, Centro
Entrada: 1 kg de alimento não perecível
Impróprio para menores de 18 anos

quarta-feira, 14 de abril de 2010

História de Goiás em novos trilhos

Em seu novo livro, Poder e Paixão, Lena Castello Branco desmistifica a trajetória dos Caiado, lançando nova luz sobre a história do Estado e sacudindo a poeira das tradições


"A recomposição do passado, sob a forma de memória histórica, resulta de um complexo processo de negociação entre presente e passado." É com estas palavras que Noé Freire Sandes, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), abre a apresentação de Poder e paixão - A saga dos Caiado, novo livro da historiadora Lena Castello Branco que acaba de sair pela Cânone Editorial. Em dois graúdos volumes, que enfeixam mais de mil páginas, a publicação é resultado de criteriosa e profunda pesquisa bibliográfica e documental, que levou cerca de doze anos para ser concluída e contou com dezenas de entrevistas, depoimentos e documentos inéditos.

A abertura de Noé resume bem o objetivo de tão aprofundado estudo: mais do que reafirmar a história já perpetuada e reproduzida maquinal e incansávelmente durante o último século, a obra visa uma reinterpretação de fatos e o questionamento de algumas verdades tidas como absolutas, lançando nova luz e desmistificando aspectos obscuros da história de Goiás.

"Preocupei-me em dar voz aos silenciados, sobretudo aos derrotados pela Revolução de 1930 - os chamados 'decaídos' - impedidos de se manifestar por longo período. Ao dar início à elaboração de Poder e paixão, deparei-me com a forte representação negativa da família Caiado, que, disseminada no imaginário popular, contaminou o próprio sobrenome. Optando pela história-problema - que permite apreender o indivíduo em interação com a sociedade - entrevi, nesse fato, o fulcro dos questionamentos para os quais buscaria resposta: como e por que se deu a demonização dos Caiado?" introduz Lena, deixando claro que a publicação não pretende vir em defesa de ninguém, mas sim deixar de lado a visão conformista em busca de versões mais condizentes com a realidade histórica. 

Custeado pela Agepel mediante autorização de sua presidente, Linda Monteiro, e do Governador Alcides Rodrigues, o livro aborda também questões como o coronelismo, a Coluna Prestes, as revoluções e sediações em Goiás e no Brasil durante a Velha República, entre outros aspectos da história do país  

História de Goiás sob nova luz

Partindo do esgotamento das minas, ainda no século XVIII, o estudo tem como marco inicial a vinda de Manoel Cayado de Souza de Portugal para a Vila Boa, onde, em 1770, obteve concessão de uma sesmaria nas matas da Paciência. Documentos históricos inéditos foram percorridos no Rio de Janeiro, São Paulo, Cidade de Goiás, Brasília e Goiânia, com destaque para o rico acervo da família Caiado, que se encontrava distribuído entre diversas mãos. Além disso, a autora visitou a aldeia ancestral da família em Caria, Portugal, onde teve acesso a valiosa documentação escrita e iconográfica relativa ao tema.

Com narrativa envolvente e rica, a obra realiza um resgate completo e detalhado de Goiás naquele tempo, abordando o desbravamento do sertão e a transição para as atividades agro-pastoris, no século XIX, bem como a participação dos goianos na Guerra do Paraguai e na campanha abolicionista. No século XX, privilegia a análise das lideranças políticas da Velha República, com destaque para a personalidade de Antônio (Totó) Ramos Caiado, um dos representante políticos mais importantes da saga familiar retratada pela historiadora.

Embasado por farto acervo, o livro apresenta um Totó mais humano e pluridimensional, que nem de longe lembra o bicho-papão repercutido e repetido por diversas gerações. Seus amores, suas ligações com a família e a terra, suas lutas, sua formação e visão de mundo, a defesa de Goiás na passagem da Coluna Prestes, as articulações políticas, as interligações familiares, as prisões, denúncias, censura e perseguições, tudo é analisado e repensado sobre uma nova ótica, dando início a um novo e repaginado capítulo da história de nosso Estado.

A obra realiza ainda uma explanação dos antecedentes da Revolução de 1930 na região sudoeste de Goiás, dando enfoque à emergência de novas lideranças no cenário político do Estado e ao período de excessão, que se prolongou no Estado Novo e encerrou-se com a redemocratização.  

Inserida na perspectiva mais ampla da história de Goiás e do Brasil,  a narrativa se estende até a construção de Brasília, ressaltando a atuação de políticos goianos no Congresso Nacional em apoio à mudança da capital federal para o Planalto Central, sob a liderança do então senador Emival Caiado. Completa e abrangente, a publicação retrata seis gerações da família e conta com centenas de notas bibliográficas, enriquecidas por dezenas de fotos de época obtidas a partir de acervos públicos e familiares.

Além de recuperar mais de meio século do processo histórico nacional, tratados de forma instigante e inovadora, o livro ainda assegura uma questão fundamental no estudo e na perpetuação da História enquanto ciência: tal resgate permite a abertura para a história do outro, deixando de lado o medo das zonas de sombra do passado para ir além do repetido e consagrado. "Pretende-se que a obra traga relevante contribuição à história e à cultura goianas, sobretudo ao suscitar questionamentos e ensaiar revisões que permitam enfoques atualizados de temas pouco explorados - ou explorados tendenciosamente - pela história tradicional", afirma Lena.

A autora

Atuante na educação e pesquisa histórica há mais de 50 anos, Lena Castello Branco é Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e Professora Titular aposentada da Universidade Federal de Goiás (UFG). Como diretora do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFG, fundou os cursos de mestrado em História e em Letras e propôs a criação do Museu Antropológico da Universidade. Em Brasília, foi membro do Conselho Federal de Educação, Diretora Geral do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e Assessora do Ministro de Estado da Cultura.

Com uma longa trajetória de atuação cultural, registra participações significativas: ex-membro e vice-presidente do Conselho de Cultura do Estado de Goiás, sócia fundadora da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás e da Sociedade Brasileira de História da Medicina, sócia emérita e diretora da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro titular da Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes e sócia correspondente da Academia Belavistense de Letras, Artes e Ciências. É autora de vários artigos e livros, dentre os quais "Arraial e Coronel: dois estudos de História Social", distinguido com o prêmio "Clio" da Academia Paulistana da História, em 1980. Contista premiada, autora e diretora de peças de teatro, Lena também é cronista semanal do Diário da Manhã. 

Apaixonada por Goiás

Nascida em Parnaíba, no Piauí, Lena reside em Goiás desde 1949, já tendo sido homenageada com os títulos de Cidadã Vilaboense, em 1973, e Cidadã Goianiense, em 2006. Apaixonada pelo Estado, a historiadora enxerga no mais recente projeto uma maneira de homenagear e retribuir a acolhida que recebeu por aqui, contribuindo na valorização da cultura e do resgate histórico local. "Com o presente trabalho tive por objetivo retribuir a generosidade do povo de Goiás, Estado que adotei e onde nasceram meus filhos e netos, assim contribuindo para o melhor conhecimento e valorização do papel desempenhado pelos goianos no contexto da história do Brasil", concluiu.

Poder e Paixão - a saga dos Caiado
Lena Castello Branco Ferreira de Freitas
Goiânia - Editora Cânone, 2009
2 volumes

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Giba Caso Verdade vai ao ar no Cine Cultura

O Cine Cultura exibe exclusivamente hoje, a partir das 20 horas, o filme em vídeo Giba Caso Verdade, do diretor goiano Waldemar Vieira, que assina também o roteiro e a direção de fotografia do trabalho. Tendo como protagonista o ator Benedito Cardoso, a filme traça a história de um eremita, individuo que, seja por penitência, religiosidade ou simples amor à natureza, vive em lugar deserto e isolado do restante da civilização. A obra mostra as várias facetas da realidade que o homem projeta no seu histórico de vida, levando em conta suas reações, diferenças e sabedorias.

Tanto pela força implacável das circunstâncias quanto pelo teor inabalável de sua natureza humana, o personagem experimenta a individualidade do homem em toda a sua pureza e totalidade, explorando um ponto pouco abordado no cinema convencional. Com trilha de Garcino e Wilson, interpretada por Zé Campeiro e Tião do Vale com acompanhamento de Sudair (viola caipira) e Riachinho (acordeon), o filme contou com o apoio da Prefeitura de Bela Vista e da Associação Brasileira de Documentaristas – Seção Goiás (ABD-GO) para sua execução.

A exibição no Cine Cultura integra um projeto da Agepel que visa promover e valorizar a produção cinematográfica regional, dando espaço, semanalmente às segundas-feiras, para trabalhos em vídeo de produtores goianos. Além de Giba Caso Verdade, a sala continua sua programação normal com o longa-metragem Ouro Negro, dirigido por Isa Albuquerque, que tem sessões 18h30 e 21 horas de segunda a sexta, e 17 e 19h30 aos sábados, domingos e feriados. Os ingressos custam R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada).


 SERVIÇO

Vídeo: Giba Caso Verdade
Direção: Waldemar Vieira
Origem: Brasil / 2010
Data: Segunda-feira, 12 de abril
Sessão única: 20 horas
Local: Cine Cultura
Entrada franca
Informações: (62) 3201-4670

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Goiânia recebe a Caravana Rumos 2010

Com participação do diretor, autor, encenador e artista performático Fernando Villar, o debate discutirá, entre outras coisas, o conceito e a estética do teatro de grupo no Brasil


O Centro Cultural Martim Cererê recebe hoje a Caravana Rumos 2010, que debaterá questões pertinentes ao teatro de grupo no Brasil, seus conceitos, estéticas e pesquisas. O evento integra a série de viagens que levará equipes do Itaú Cultural a todas as capitais do Brasil até o final deste semestre, e contará com abertura de Cristina do Espírito Santo, coordenadora do Núcleo de Artes Cênicas do Instituto.

A partir das 19 horas, Cristina falará dos novos editais do programa, que em 2010 está recebendo inscrições de todo o país para as áreas de Literatura, Música, Pesquisa e Teatro. Inaugurado este ano, o Rumos Teatro é o foco da etapa goiana, e tem como finalidade promover um intercâmbio entre grupos de todas as regiões, contribuindo para o amadurecimento, a formação e a articulação desses coletivos no cenário cultural brasileiro.

As inscrições são restritas a grupos de teatro brasileiros, porém, artistas estrangeiros com residência fixa no Brasil há mais de três anos e que tenham desenvolvido sua carreira artística no país também podem participar. Serão contempladas até 10 propostas de compartilhamento de práticas criativas entre grupos de teatro, que receberão incentivos que vão de 20 a 44 mil reais cada.

Em contrapartida, os selecionados manterão um blog por um período mínimo de seis meses e realizarão, no mínimo, dois encontros presenciais entre os grupos envolvidos no projeto. Eles também apresentarão os resultados das pesquisas em uma mostra a ser realizada em 2011, organizada pelo Itaú Cultural.

Debate

Após a abertura do evento, o diretor, autor, encenador e artista performático Fernando Villar dará início a um debate que abordará temas como conceitos e estética do teatro de grupo, pesquisa artística e processos colaborativos no Brasil; perspectiva histórica com alguns grupos de teatro que pesquisam, publicam e/ou performam suas produções no Brasil, Estados Unidos e Europa; e pesquisa em artes cênicas no Brasil, dentro e fora do campus universitário.

Graduado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília, pós-graduado em Direção no Drama Studio London e Ph.D em Teatro na University of London, Villar é professor do Departamento de Artes Cênicas há 15 anos, e desde 2002 professor do Mestrado em Arte da Universidade de Brasília – atuando principalmente com teatro contemporâneo, performance, interpretação, encenação, teatro performance e interdisciplinaridades artísticas.

Com os grupos Chia Lia e Chia Lia Jr., braços artísticos do seu Laboratório Interdisciplinar de Investigação e Ação Artística (LIIAA) na UnB, tem traduzido e encenado peças inéditas no Brasil, como Coração Partido, de Caryl Churchill, e Laura, de Mariano Pensotti. Atualmente dirige três novas obras de sua autoria em Brasília.

Caravana Rumos

Antes de Goiânia, a caravana focada em Teatro passou por Porto Velho (RO), e em seguida partirá para Belo Horizonte (MG), Palmas (TO), Teresina (PI), Natal (RN) e Curitiba (PR). Pioneiro no mapeamento da produção artística contemporânea, em 13 anos o Rumos já soma aproximadamente 20 mil projetos inscritos, com apoio ao desenvolvimento de cerca de 900 projetos em Arte Cibernética, Artes Visuais, Cinema, Dança, Educação, Jornalismo Cultural, Literatura, Música e Pesquisa Acadêmica. Levou a obra dos selecionados a mais de 2 milhões de pessoas em todo o país, isso sem contar o público atingido pelos seminários e demais ações das itinerâncias do programa.

SERVIÇO
Caravana Rumos 2010 – Teatro
Quando: Hoje, às 19 horas
Onde: Centro Cultural Martim Cererê (Rua 104-F, Q.F18, Setor Sul)
Informações: (62) 3201-4691
Inscrições para os editais: www.itaucultural.org.br/rumos
Entrada franca

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Um liquidificador de sons

BNegão Sound System promove mix de estilos musicais na noite de hoje no Projeto Discompasso


Quebrar a rotina sem perder o ritmo. Essa é a proposta do projeto Discompasso, inaugurado este ano e que acontece todas as quintas no Rock’n Gol (Rua 139, Setor Marista). Bandas e DJs dos mais diferentes estilos sobem semanalmente ao palco do pub, trazendo em suas bagagens sonoridades que extrapolam o universo rock and roll e misturam referências como jazz, soul, funk, eletrônico, breaks e groove em seus repertórios. Com curadoria do Dj Angelo Martorell e do produtor Pedro Naves, o evento recebe hoje o BNegão Sound System, projeto do rapper BNegão em parceria com Pedro Selector, trumpetista e vocal dos Seletores de Frequência, e DJ Castro, do Black Alien.

Concebido especialmente para apresentações ao vivo, o grupo promete um repertório explosivo, que resgata os hits eletrônicos dos Seletores de Frequência - já que hoje a banda utiliza um som 100% orgânico em suas apresentações. No projeto, músicas como "Enxugando Gelo" e "Dorobô" são executadas em suas versões originais.

O SoundSystem também traz as célebres parcerias desenvolvidas pelo rapper ao longo dos anos, como "Sorriso Aberto" (Digital Dubs), "Fundamental" (com Marcelinho da Lua) e "Caixa Preta" (com o paulistano Curumin). Além disso, apresenta algumas novidades, como o mix de Samba de Raiz com Funk Carioca e Reggae, entre outras misturas.

Considerado um dos principais e mais criativos rappers do Brasil, o ex-MC do Planet Hemp e atual Seletores de Frequência e Turbo Trio segue circulando mundialmente, levando sua música e suas ideias para alguns dos palcos mais importantes do Brasil e do mundo.

A parceria com Pedro Selector, egresso da banda indie Pelvs e que também já tocou com o mestre do Soul/Funk nacional, Gerson King Combo, se destaca pelo bom gosto e pelas múltiplas influências do trumpentista, que vão de Miles Davis à musica jamaicana, passando pela Bossa Nova e o Funk.

O trio se completa com a presença do DJ Castro, Dj oficial do rapper Black Alien e fundador, ao lado do MC De Leve, do coletivo Quinto Andar, considerado o maior coletivo do hip-hop underground do país. Referência  nacional de inovação, o grupo foi pioneiro no uso da internet pra divulgação de suas próprias musicas e encerrou suas atividades em 2006.

Além da apresentação do grupo, o Discompasso de hoje contará com apresentações dos DJs Öric, responsável direto pela inserção da música negra na noite goianiense e detentor de um set recheado com brazilian beats, african grooves, nu funk, e live bass; e Angelo Matorell, residente do projeto e representante do selo Royal Soul Records no Centro-Oeste. Os ingresso custam R$15, mas os 100 primeiros pagam R$10. A abertura da casa acontece as 22h.

Mais informações e a programação completa você encontra no  www.discompasso.com.br

SERVIÇO 

Discompasso recebe BNegão Sound System
Local: Rock’n Gol - Rua 139, Setor Marista - Ao lado do Samauma
Horário: 22h
Ingressos a R$15, R$10 para os 100 primeiros

Sangue novo no Design goiano

Artistas inovam numa produção mais consciente e ecologicamente correta, abandonando a escala industrial em prol de peças mais elaboradas e exclusivas


Se enganam os que pensam que para colocar boas ideias em prática sem perder a qualidade é necessária uma estrutura industrial. No ritmo da pós-modernidade, uma nova safra de artistas vêm na contramão do modelo capitalista e da criação em larga escala utilizando um modo de produção mais independente e minimalista, no qual as peças são feitas de maneira quase artesanal, uma a uma, garantindo exclusividade e excelência no acabamento.

De carona no "faça você mesmo", lema do movimento punk do início dos anos 70, este novo segmento questiona o suposto monopólio das técnicas por especialistas e defende a estimulação da capacidade das pessoas não-especializadas de aprender e realizar coisas além do que tradicionalmente se julgam capazes.

Criada em 2006 pelo designer Elton Rocha (27), a MOZ é um exemplo bastante completo deste tipo de produção. Nascida de uma parceria com o arquiteto Jesus Henrique Cheregati, professor da PUC Goiás, a marca produz acessórios vanguardistas e exclusivos, que graças ao advento da internet e da facilidade de divulgação proporcionado por ela, consegue se manter somente em plataforma virtual (www.mozbrazil.com). Mesmo com a saída do arquiteto do projeto, em 2007, Elton decidiu dar prosseguimento à grife, que já completa quatro anos e está em sua 3ª coleção.

"Desde os tempos da escola eu já nutria a vontade de criar minha própria marca. O projeto tomou forma quando percebi a carência de acessórios de moda que carregassem um conceito próprio, contassem uma história e não fossem apenas um complemento das coleções de vestuário, como geralmente acontece. Desse anseio pelo diferente surgiu a MOZ, que sempre manteve como premissa o uso de elementos musicais, mesmo que de forma indireta e as vezes não muito óbvias", conta.

Prova maior dessa ligação é o nome da marca, que teve origem na imagem espelhada da palavra SOM. "A música é um elemento muito importante em nossas coleções, e mescla-se com outros conceitos e referências para manter a relevância e atualidade do trabalho", comenta. A coleção atual, por exemplo, foi batizada de Ambifásico e mistura elementos musicais com símbolos tecnológicos e referências ambientais. O resultado são pássaros formados por claves de fá, libélulas USB, árvores cujos galhos são arrobas, entre outras misturas. Cheias de cores e vivacidade, as peças encontram inspiração no movimento frenético das informações: a tecnologia transformando o surreal em real.

Os elementos procuram reproduzir o modo de vida no mundo contemporâneo: a busca pelo anticonvencional, pela autenticidade, pelo reconhecimento. Objetos de uma geometria instigante que navegam num trânsito livre entre as formas, enfeitando e dando vida ao trabalho. Numa visão ampliada, as contradições se complementam, se unindo numa sintonia de beleza, multiplicidade, opções e mistura.

Sustentabilidade e ambientalismo

A temática ambiental atingiu também a coleção de verão do designer de moda, pintor e figurinista Lucas Silveira (21), outra revelação do segmento "do it yourself". Criada em 2007 na busca por uma identidade nova e sem preconceitos para a atual geração hi-tech, a marca promete criar, a cada nova coleção, funções inovadoras para os materiais já existentes, tendo visão e coragem para mudar as “regras” e visando uma moda essencialmente atemporal. "Não se pode fabricar água, mas é possível dar novos destinos a materiais que seriam descartados e adiar um possível colapso ambiental. Por isso, além das iniciativas da marca, também sou responsável por uma assessoria no Colégio Ávila, onde introduzo aos alunos conceitos e ideias de como produzir roupas com material reciclável", afirma.

Elton também utiliza a reciclagem como alternativa de sustentabilidade para a MOZ: todas as embalagens da Ambifásico são fabricadas a partir de garrafas pet e visam pelo reaproveitamento de materiais.

Artistas multitarefa

Profissional multifacetado, Elton se ocupa de todas as etapas de produção, da concepção e desenvolvimento das peças até a fase de execução e divulgação dos produtos. "Crio tudo no computador e terceirizo apenas etapas como cortes e gravações a laser, plotagens e afins. Porém, todas as peças são montadas por mim, uma a uma, de forma bastante meticulosa. Além disso, me ocupo de todo o material gráfico, fotográfico, embalagens, layout do site... Dessa forma, produzo de forma mais livre, e só lanço um trabalho quando estou completamente satisfeito com todo o processo", admite.

"Além de desenhar o croqui das peças, participo de todas as outras fases da confecção, como modelagem e costura. Tenho uma pequena equipe, composta por duas pessoas, que me ajuda nesta parte, mas faço questão de colocar a mão na massa e dar minha contribuição a todos os processos", comenta Lucas, que possui um site com amostras de seu trabalho (www.lucassilveira.com).  

A multidisciplinaridade é um traço recorrente nas criações deste novo setor, uma vez que o objetivo é uma produção cada vez mais autônoma e livre. Porém, algumas desvantagens devem ser consideradas, como o aumento de custo por peça e a dificuldade de acesso a determinados materiais. "Quando você compra matéria-prima em larga escala, o preço tende a cair. Da mesma forma, alguns materiais só são vendidos em grande quantidade, o que dificulta muito a produção em escalas menores. Entretanto, por prezamos por características como exclusividade e qualidade de acabamento, arcamos com esse prejuízo", comenta Elton.

A MOZ produz aproximadamente dez peças de cada modelo, nas mais diversas tonalidades e variações. Segundo seu idealizador, uma nunca é igual à outra, considerando-se que cada peça possui suas características e particularidades, o que acaba dando uma personalidade muito forte para a criação. "As pessoas que já conhecem a MOZ reconhecem imediatamente uma produção da marca", conta.

Já a Lucas Silveira Produções fabrica cerca de quatro exemplares de cada criação, número que cai para apenas um nos modelitos feitos especialmente para passarela. "Damos a nossos clientes o prestígio de incorporarem o visual à suas personalidades, deixando de lado a homogenização que a moda em larga escala acaba gerando", afirma o estilista.  

Mercado em expansão

Segundo Lucas, o mercado da moda e do design em Goiás está ganhando espaço, impulsionado pela efervescência e pluralidade criativa presentes na Capital. "Lá fora, nosso Estado costumava ser visto como simples fabricante de roupas e assessórios, mas podemos perceber que isso já está mudando, principalmente em função dos novos nomes da moda em Goiânia", concluiu.

"Creio que o mercado de design em Goiás está em crescente desenvolvimento: nota-se a existência de públicos ávidos por novidades, seja em qualquer dos campos de criação. Além disso, existem muitos projetos e trabalhos interessantes acontecendo de forma independente na cidade, o que sinaliza para uma ascenção e abertura do mercado", reafirma Elton.

Oratória sem segredo

Quem nunca sentiu aquele friozinho na barriga para falar em público? O problema é mais comum do que se pensa, mas calma: tem solução

Enquanto as ideias parecem fazer um nó e perder todo o sentido, as mãos suam e o corpo treme. As palavras enroscam na garganta e o temível "branco" logo aparece, acompanhado daquela gagueira incoveniente que torna impossível disfarçar o nervosismo. Essa dificuldade para falar em público, que nos casos mais extremos recebe o nome de glossofobia, é uma fobia social bastante comum, que atingirá cerca de 60% das pessoas em algum momento da vida e está intimamente ligada à insegurança e à timidez.

De natureza reservada, o estudante de música Marcos Galvão (20) nunca tinha apresentado dificuldade para falar em público até chegar à adolescência. Por volta dos 13 anos, à medida que descobria e entendia melhor as convenções sociais que o cercavam, Galvão foi sendo tomado por surtos de insegurança e timidez, que acabaram o tornando um indivíduo mais calado e introspectivo.

Quando precisa fazer algum tipo de apresentação ou exposição de ideias, o estudante sofre com o nervosismo excessivo e o coração acelera só de imaginar: "Fico inibido até mesmo para conversar com pessoas mais extrovertidas e falantes do que eu, imagine então para falar em público, para muitas pessoas. É um pesadelo!", admite.

Influência familiar e estresse pós-traumático


Segundo a psicóloga Elizete Borges dos Santos, pós-doutora em Psicologia Clínica, alguns fatores familiares podem ser desencadeadores desse tipo de comportamento: "Existem pais classificados como castradores, que podem ser desde punitivos ou rigorosos demais, imbutindo medo na criança, até bonzinhos em excesso, quando não permitem que a criança faça nada sozinha. Essa criação pode formar um adulto inseguro, tanto por não ter aprendido o que fazer quanto pelo medo de errar", explica.

Outro fator que pode determinar o aparecimento do problema é a passagem por traumas: mesmo que o indivíduo tenha sido excelente orador, um grande baque pode levá-lo a desenvolver a glossofobia pós-traumática, porém, é importante lembrar que esta característica não se torna inerente à personalidade da pessoa e, por isso, pode ser tratada.   

É tudo biológico

Os indesejáveis sintomas causados pela glossofobia, segundo Elizete, são gerados por uma descarga de pensamentos negativos automáticos que ocasionam um acréscimo na adrenalina. No momento do medo, as glândulas supra-renais liberam essa adrenalina no organismo para fortalecer os músculos, aumentando a pressão sanguínea e nos preparando para fugir o mais rápido possível da situação de perigo. Quando falamos em público, entretanto, não dá para fugir. O público está ali.

Como não nos movimentamos como faríamos se estivéssemos fugindo, a adrenalina não é metabolizada e permanece mais tempo do que deveria no organismo, provocando taquicardia, sudorese e tremedeira: "Com o pensamento fixo nos sintomas, o paciente acaba entrando num círculo vicioso e corre o risco de entrar em pânico", previne Elizete.

Para contornar o problema, a doutora dá a dica: "Uma das técnicas mais usadas é a respiração profunda e o desvio de foco, ou seja, procurar não fixar-se nos sintomas. Porém, dependendo da intensidade do bloqueio, é importante que a pessoa procure um profissional para solucionar o caso. Na grande maioria das vezes o tratamento é simples e bem sucedido", avalia.

Para ajudar a evitar aquele friozinho na barriga, alguns cuidados também podem ser tomados:

- Prepare detalhadamente o que vai falar. Organização é o grande trunfo dos bons oradores.

- Não confie na memória, tenha sempre um roteiro à mão.

- Evite utilizar palavras difíceis e expressões pouco conhecidas. A naturalidade é a melhor pedida.

- Conheça profundamente o assunto. Quanto mais informado estiver, mais confiante você ficará.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Festival de Curtas em Pirenópolis

Idealizado e produzido pelo cineasta goiano Marco Polo, o Festival Curta Noite promove hoje evento de pré-lançamento. A I Etapa Nacional em Goiás terá Pirenópolis como sede

O Curta Noite, festival de curta metragens nascido no Rio de Janeiro e que já se tornou uma das maiores premiações do cinema nacional, chega este ano a sua 4ª edição com uma novidade: a I Etapa Nacional em Goiás, prevista para o dia 29 de junho em Pirenópolis. A atriz Lady Francisco será a madrinha do festival e a apresentação ficará por conta de Suzana Pires, a Ivonete da novela Caras e Bocas, e do ator goianiense Marco Polo, mais conhecido por seus trabalhos no cinema internacional e que assina também a idealização e concepção do projeto. O pré-lançamento acontecerá hoje, a partir das 19h30, no Address Hotel (Av. República do Líbano, acima da Praça Tamandaré). O evento é voltado para a imprensa, representantes dos diversos segmentos culturais e empresários.

A grande inovação da edição 2010 será a apresentação, em primeira mão, do curta-metragem “O Vale da Lua”, que será filmado na Chapada dos Veadeiros no final de maio, época em que Goiás goza, segundo o cineasta, de uma das melhores luzes para captação de vídeo do mundo. O filme trará no elenco Marco Polo como o viajante Marco Aurélio, Lady Francisco interpretando Alma Luz e Suzana Pires no papel de Lakhsmi, namorada de Marco Aurélio. Além de ser apresentado na abertura do IV Festival Curta Noite, o curta será exibido em vários festivais da America Latina, incluindo o Festival de Guadalajara, o Diosas del Plata e o de Acapulco, no México.  Em função de uma parceria com a Proméxico, uma espécie de selo de garantia de materiais televisivos,  o filme ainda será divulgado para 83 países falantes da língua hispânica.

A ideia de expandir o festival para terras goianas tem a ver com um retorno às raízes de Marco Polo: apaixonado por Goiás, o diretor regressou ao Estado no ano passado por ocasião da morte do pai. Durante a estada, concebeu a edição goiana no intuito de divulgar o exuberante cenário de sua terra natal e incentivar a produção cinematográfica local. “Tenho um vínculo de gratidão e respeito muito grande por Goiás, e por isso quero exaltar as maravilhas que esta terra tem”, comentou.

O idealizador

Formado em dramaturgia pela Faculdade Dulcina, em Brasília, Marco Polo especializou-se em Roteiro e Interpretação para Cinema na Escuela San Antônio de Los Baños, em Cuba, dando início à sua carreira em 1990. Em 93, foi premiado como melhor ator no Festival de Cinema de Cuba com o filme “Ilusão”. Em 94, participou da minissérie “Butterfly”, uma produção da italiana TV RAI, contracenando com o renomado ator francês Jean Sorel e em 96 foi escolhido para contracenar com a atriz francesa Isabelle Adjani no filme espanhol “La Noche”, filmado na Cidade de Corrientes, na Argentina. Em 1997, apresentou o Festival de Cinema de Madrid ao lado dos atores Matt Damon, Keanu Reeves e Isabelle Adjani.

No Brasil, participou de alguns episódios do programa “Você Decide”, da minissérie “Decadência”, na Globo, e da novela “74.5 - uma onda no ar”, da extinta TV Manchete. Atuou em montagens para teatro de peças escritas por Maria Clara Machado, Jô Soares, Agatha Christie, Irwan Saw, entre outros.

Além do Festival Curta Noite, o cineasta é o realizador do Ciclo de Leituras Marco Polo, que há sete anos reúne profissionais das artes cênicas para leitura de textos e montagem de espetáculos. Hoje o Ciclo de Leituras conta com um público cativo, que comparece de forma fiel e divulga o evento. Das  edições apresentadas, 8 foram montadas e 6 estão em fase de produção.

Bailarina goiana na terra do Tio Sam

Com apenas 14 anos, Amanda foi uma das quatro brasileiras selecionadas para o Internacional Ballet Competition


Única integrante goiana da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, filial brasileira do reverenciado balé russo, a bailarina Amanda Gomes foi uma das selecionadas para o USA Internacional Ballet Competition (IBC), um dos campeonatos de dança mais importantes do mundo, que este ano acontece de 8 à 27 de abril em Jackson, cidade americana localizada no estado do Mississipi. Dos mais de 5 mil vídeos inscritos na competição, enviados por dançarinos gabaritados de todas as partes do mundo, apenas 100 foram classificados. Destes, somente quatro brasileiros. 

Com apenas 14 anos de idade, sete dedicados à modalidade, Amanda já é considerada uma das grandes revelações do balé clássico do país. Na seleção para a Escola Bolshoi, desbancou nada menos do que 120 mil bailarinos de todo o país e América Latina, ficando entre os 428 candidatos selecionados para a final e galgando uma das 86 vagas do programa. “Tenho certeza que a fé em Deus e a vontade de vencer foram combustíveis para o meu sucesso. Quem está começando precisa se dedicar com afinco à dança e lutar por aquilo que realmente quer”, aconselha.

Com sede no município catarinense de Joinville, localizado a 180 km da grande Florianópolis, a escola está prestes a completar 10 anos no Brasil, e oferece curso com duração de oito anos e estágio na Rússia para seus alunos. Todos os anos, duas audições selecionam dançarinos para o curso de formação - uma em julho, durante o Festival de Dança de Joinville e outra em outubro. Além destas, eventualmente ocorrem audições em cidades onde a escola se apresenta. Após a aprovação da filha, em julho de 2005, Polyana Gomes e Zeuxis Filho não tiveram dúvida: abriram mão de seus empregos em Goiânia e mudaram-se para Joinville, tudo para realizar o sonho da menina de estudar na melhor academia de balé do país.

Durante os primeiros meses, receberam ajuda do restante da família, porém, logo Zeuxis foi trabalhar numa telefônica e Polyana tornou-se a fisioterapeuta do Bolshoi. A rotina da jovem Amanda é puxada, e concilia 6 horas diárias de treino na Escola Bolshoi com os estudos em colégio católico, no qual cursa a 9ª série. Apesar disso, a menina não reclama. "Sei que nenhum resultado aparece sem sacrifício. Por isso, sempre me dedico ao máximo", comenta.

Apesar de talentosa e promissora, a bailarina ainda não conseguiu patrocínio para a viagem, e até agora viajará com recursos da própria família. "Tenho a sorte de ter pais que sempre apoiaram meus sonhos e projetos, porém, estamos à procura de possíveis patrocinadores, especialmente por se tratar de uma viagem tão cara", afirma. A menina desembarca nos Estados Unidos no próximo dia 6.

"Minha expectativa é muito boa, tenho treinado muito para esta competição. Ainda não sabemos exatamente qual será o prêmio, mas só de participar de um campeonato dessa magnitude já me considero vitoriosa. A experiência e o contato com dançarinos das diversas partes do mundo vai enriquecer muito meu currículo", conta.  

Ainda faltam três anos para a formatura de Amanda na escola do Teatro Bolshoi, mas a menina já sonha em dançar para uma academia fora do país. “Esse diploma vai abrir muitas portas, e me dará a oportunidade de realizar meu grande sonho, que é integrar uma companhia de balé na Europa”, empolga-se.

Os interessados em patrocinar a dançarina podem entrar em contato com a família através do email zeuxisfilho@yahoo.com.br ou pelo fone (47) 3804-6300.