quinta-feira, 8 de abril de 2010

Oratória sem segredo

Quem nunca sentiu aquele friozinho na barriga para falar em público? O problema é mais comum do que se pensa, mas calma: tem solução

Enquanto as ideias parecem fazer um nó e perder todo o sentido, as mãos suam e o corpo treme. As palavras enroscam na garganta e o temível "branco" logo aparece, acompanhado daquela gagueira incoveniente que torna impossível disfarçar o nervosismo. Essa dificuldade para falar em público, que nos casos mais extremos recebe o nome de glossofobia, é uma fobia social bastante comum, que atingirá cerca de 60% das pessoas em algum momento da vida e está intimamente ligada à insegurança e à timidez.

De natureza reservada, o estudante de música Marcos Galvão (20) nunca tinha apresentado dificuldade para falar em público até chegar à adolescência. Por volta dos 13 anos, à medida que descobria e entendia melhor as convenções sociais que o cercavam, Galvão foi sendo tomado por surtos de insegurança e timidez, que acabaram o tornando um indivíduo mais calado e introspectivo.

Quando precisa fazer algum tipo de apresentação ou exposição de ideias, o estudante sofre com o nervosismo excessivo e o coração acelera só de imaginar: "Fico inibido até mesmo para conversar com pessoas mais extrovertidas e falantes do que eu, imagine então para falar em público, para muitas pessoas. É um pesadelo!", admite.

Influência familiar e estresse pós-traumático


Segundo a psicóloga Elizete Borges dos Santos, pós-doutora em Psicologia Clínica, alguns fatores familiares podem ser desencadeadores desse tipo de comportamento: "Existem pais classificados como castradores, que podem ser desde punitivos ou rigorosos demais, imbutindo medo na criança, até bonzinhos em excesso, quando não permitem que a criança faça nada sozinha. Essa criação pode formar um adulto inseguro, tanto por não ter aprendido o que fazer quanto pelo medo de errar", explica.

Outro fator que pode determinar o aparecimento do problema é a passagem por traumas: mesmo que o indivíduo tenha sido excelente orador, um grande baque pode levá-lo a desenvolver a glossofobia pós-traumática, porém, é importante lembrar que esta característica não se torna inerente à personalidade da pessoa e, por isso, pode ser tratada.   

É tudo biológico

Os indesejáveis sintomas causados pela glossofobia, segundo Elizete, são gerados por uma descarga de pensamentos negativos automáticos que ocasionam um acréscimo na adrenalina. No momento do medo, as glândulas supra-renais liberam essa adrenalina no organismo para fortalecer os músculos, aumentando a pressão sanguínea e nos preparando para fugir o mais rápido possível da situação de perigo. Quando falamos em público, entretanto, não dá para fugir. O público está ali.

Como não nos movimentamos como faríamos se estivéssemos fugindo, a adrenalina não é metabolizada e permanece mais tempo do que deveria no organismo, provocando taquicardia, sudorese e tremedeira: "Com o pensamento fixo nos sintomas, o paciente acaba entrando num círculo vicioso e corre o risco de entrar em pânico", previne Elizete.

Para contornar o problema, a doutora dá a dica: "Uma das técnicas mais usadas é a respiração profunda e o desvio de foco, ou seja, procurar não fixar-se nos sintomas. Porém, dependendo da intensidade do bloqueio, é importante que a pessoa procure um profissional para solucionar o caso. Na grande maioria das vezes o tratamento é simples e bem sucedido", avalia.

Para ajudar a evitar aquele friozinho na barriga, alguns cuidados também podem ser tomados:

- Prepare detalhadamente o que vai falar. Organização é o grande trunfo dos bons oradores.

- Não confie na memória, tenha sempre um roteiro à mão.

- Evite utilizar palavras difíceis e expressões pouco conhecidas. A naturalidade é a melhor pedida.

- Conheça profundamente o assunto. Quanto mais informado estiver, mais confiante você ficará.


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