sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cultura popular e realismo fantástico

Em As Centenárias, premiado espetáculo que chega amanhã a Goiânia, Andréa Beltrão e Marieta Severo vivem Socorro e Zaninha, carpideiras do interior nordestino que se aventuram a enganar a morte


Escrita especialmente para as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão pelo talentoso dramaturgo Newton Moreno, o espetáculo As Centenárias desembarca amanhã em Goiânia para duas apresentações, às 20 horas e às 22h30, no Teatro Rio Vermelho. Dirigida por Aderbal Freire-Filho, a peça foi uma das grandes vencedoras do Prêmio Shell de Teatro, rendendo a Newton e à dupla Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque os troféus de melhor autor e melhor cenário, respectivamente, além de consagrar Andréa Beltrão como melhor atriz. Além disso, o espetáculo ainda levou os prêmios Contigo de melhor atriz (Andréa Beltrão), melhor espetáculo de comédia (júri oficial e voto popular) e melhor autor (Newton Moreno); Prêmio Qualidade Brasil de melhor espetáculo de comédia, melhor atriz de comédia (Marieta Severo) e melhor diretor de comédia (Aderbal Freire-Filho); e Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR) de melhor atriz (Andréa Beltrão).

Transformadas em Socorro e Zaninha, carpideiras do interior nordestino que se aventuram a enganar a morte, as atrizes dividem o palco com o ator Sávio Moll, que anima os 240 bonecos mamulengos confeccionados especialmente para o espetáculo. A ação é toda passada em torno de um caixão, ponto central do cenário criado pelos cenógrafos Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque. “Encomendamos 60 mamulengos ao Mestre Tonho, de Olinda. Os outros 180 foram criados pela professora em arte de bonecos Ivete Dibo, que ainda fez máscaras para compor o cenário”, detalha Fernando.

Segundo Marieta, a trama se desenvolve embalada por personagens e ‘causos’ que muitas vezes beiram o fantástico e o irreal. “É interessante ver como o maravilhoso, o surreal, está inserido no cotidiano dessa gente. São personagens que enfrentam uma vida hostil, cheia de reveses, mas ainda assim seguem em frente com humor, imaginação e crença no fantástico”, explica a atriz.

Com uma amizade que já dura mais de 20 anos, Marieta e Andréa costumam brincar que já se conhecem há mais de um século, daí o nome do espetáculo. A trilha sonora, composta especialmente para a peça, leva a assinatura de Tato Taborda, e o figurino ficou por conta de Samuel Abrantes. Em entrevista exclusiva, Andréa Beltrão falou das parcerias com a amiga, entre elas o Teatro Poeira, a preparação para a peça e os planos para o próximo semestre. Confira:

Vocês se conhecem há mais de 20 anos e fazem um bom par tanto em cima dos palcos quanto fora deles. Tanto que vocês possuem uma parceria que é o Teatro Poeira, fundado em 2005 em Botafogo, Zona Sul do Rio. Dá para acompanhar de perto as outras produções que rolam por lá? Como é a relação de vocês com o espaço?


Andréa Beltrão - Temos o maior interesse na produção cultural do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo. No Poeira, desenvolvemos um projeto extenso criado pelo nosso curador Aderbal Freire Filho e tentamos fazer um verdadeiro intercâmbio através das oficinas que organizamos ao longo do ano. Muitas vezes não conseguimos assistir nem aos próprios espetáculos que trazemos para o Poeira, como foi o caso de Gatomaquia, do grupo uruguaio La Cuarta, dirigido por Hector Manuel Vidal, que esteve no Poeira justamente enquanto nos apresentávamos em Brasília.

Como surgiu a ideia de levar esta cumplicidade para cima do palco através de As Centenárias? Qual foi o estalo inicial que fez a fagulha virar este verdadeiro fogaréu de prêmios e reconhecimento da mídia e do público?


Andréa Beltrão - Nós tínhamos acabado de fazer um drama profundo, lindo, denso, Sonata de Outono, de Ingmar Bergman, e estávamos com vontade de mudar de universo. Em Sonata, interpretávamos mãe e filha que tinham uma relação muito complicada, de amor e ódio. Então nosso único pedido foi não fazer nada que falasse de família. O Newton teve essa ótima idéia, escreveu um belo texto, engraçado, e junto com a mão de ouro do Aderbal, a fagulha virou uma festa.

E a parceria com Newton Moreno, como veio? Já haviam trabalhado juntos antes?


Andréa Beltrão - Essa é a primeira vez que trabalhamos juntos, mas tivemos muita afinidade, foi um trabalho exaustivo, mas fácil e feliz.

Vocês duas já haviam explorado, em outros trabalhos, a temática nordestina. O que mais atrai vocês na cultura desta região? Qual é a característica mais forte do povo nordestino que acaba sendo a alma das personagens?


Andréa Beltrão - Como artistas, temos curiosidade por toda e qualquer cultura. Na pesquisa que fizemos para As Centenárias, nos divertimos muito com os ditados, a sabedoria popular, as preces, os costumes e uma alegria enorme de viver, apesar das dificuldades.

Como foi o estudo para a construção das carpideiras? Quanto tempo levou a preparação? Vocês visitaram a região do Cariri para se basear no momento de criação das personagens?


Andréa Beltrão - Ensaiamos durante três meses. Fizemos aulas de canto de carpideiras e manipulação de bonecos, além de muita aeróbica para aguentar correr, cantar e pular sem parar por uma hora e meia de peça. Isso sem falar em todos os livros (maravilhosos!) que o Aderbal recomendou que a gente lesse... Não fomos ao Cariri pessoalmente, mas viajamos para lá todos os dias que estamos em cena com a peça.

Os mamulengos são uma representação figurativa muito tradicional e também particular da cultura popular nordestina. Como se deu a escolha de Sávio Moll para dar vida aos bonecos? Ele já possuia ligação com a arte?


Andréa Beltrão - O Sávio é um experiente ator e ótimo palhaço, que é uma coisa dificílima. E ele já tinha experiência com bonecos. Para nós, foi o parceiro ideal.

Quais são os planos para os próximos meses? Por onde a peça ainda passará?


Andréa Beltrão -
Depois de Goiânia vamos para Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC). Encerramos a primeira parte da turnê e voltamos a viajar em 2011. Na verdade, temos mais um plano juntas: ontem, começamos a construção do anexo do Poeira, o Poeirinha. Teremos um teatro de 60 lugares, uma sala de ensaio, uma sala para aulas de dança, escritório, uma lanchonete, exposições, oficinas... Essa é a nossa mais nova aventura.

SERVIÇO
Espetáculo As Centenárias - Com Andréa Beltrão e Marieta Severo
Quando: Amanhã, com sessões às 20 horas e às 22h30
Onde: Teatro Rio Vermelho (Centro de Convenções de Goiânia)
Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia entrada)
Pontos de venda: Zastras Brinquedos e Bilheteria do Teatro
Informações: (62) 3582-0009/3219-3400

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma paixão sem protocolos

Estrelado e produzido por Deborah Secco e Erom Cordeiro, Mais uma Vez Amor chega à Goiânia para mostrar que o sentimento amoroso pode (e deve) extrapolar as convenções sociais e as fantasias engessadas e irreais do "felizes para sempre"

Conhecida pelas personagens inesquecíveis que viveu nas telinhas, como Darlene, na novela Celebridade, e Maria do Céu, em A Favorita, Deborah Secco estava longe dos palcos teatrais, onde estreou com apenas dez anos, desde 2006, quando rodou o Brasil com o monólogo "Homens, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-los?". De volta ao teatro antes de estrelar a próxima novela das oito de Gilberto Braga, a atriz desembarca em Goiânia com seu novo espetáculo, "Mais uma Vez Amor". 

Com texto de Rosane Svartam, Ricardo Perroni e Lulu Silva Telles, a peça será apresentada no Teatro Madre Esperança Garrido em duas sessões: amanhã, a partir das 21 horas e domingo, às 20 horas. Dirigida por Ernesto Piccolo, a comédia romântica de aproximadamente 60 minutos marca a estreia da atriz no comando da produção, responsabilidade que divide com seu colega de cena, Erom Cordeiro. "Há muito tempo queria produzir uma peça. Começar a decidir e escrever minha própria carreira, em vez de só aceitar propostas. Acho importante o artista fazer coisas que sejam as que ele queira dizer", afirmou Deborah, que em 2009, completou 20 anos de carreira.

No palco, os atores, que já contracenaram juntos em 2005 na novela América, vivem os encontros e desencontros de Rodrigo e Lia, um casal apaixonado que possui uma vida a dois nada convencional. Casados com outras pessoas, eles se perguntam se são amantes, amigos ou coisa nenhuma, dilema que derruba por terra as fantasias casamenteiras e propõe uma visão mais realista das relações amorosas, mostrando que o casamento não precisa ser necessariamente o final feliz de um relacionamento duradouro.

"A identificação do público com a história é imediata. A minha foi. É uma peça leve, que faz bem. Acho que todos sairão da sessão felizes. É assim que me sinto quando acabo de fazê-la: leve e feliz", falou a atriz sobre o espetáculo, que lotou teatros de 2002 a 2004, quando tinha no elenco Luana Piovani e Marcos Palmeira. Repetindo a dose, a peça já passou por diversas capitais brasileiras e atingiu a marca dos 30 mil espectadores. Em entrevista que você confere a seguir, Deborah falou sobre a montagem do espetáculo, as dificuldades de produção e as delícias de sua volta aos palcos. Confira:
 
A última vez que você fez teatro foi em 2006, quando viajou com o monólogo "Homens, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabe-los?". O que a atraiu de volta aos palcos depois de quase quatro anos? Como surgiu a ideia de participar de "Mais uma Vez Amor"?

Deborah Secco - Comecei minha carreira no teatro e sou apaixonada por ele, porém, devido aos compromissos com a TV e o cinema, tive que me afastar um pouco. Estou produzindo pela primeira vez junto com um grande amigo e sócio Léo Fuchs, o que me possibilita poder desenhar mais minha carreira. Com isso, consigo conciliar o teatro na minha carreira novamente.

Como foi a preparação para a personagem?


Deborah Secco - Desde que li esse texto maravilhoso da Rosane Svartman me apaixonei. Minha personagem é maravilhosa, permite experimentar e desenvolver desde a emocão até a comédia.
 
Quanto tempo levou a montagem da peça?

Deborah Secco -
Começamos as leituras em abril deste ano. Em maio, decidimos o elenco e a ficha técnica e tivemos um mês de ensaio com o talentoso e querido diretor Ernesto Piccolo.

Este é o primeiro espetáculo de teatro que você produz, em parceria com o produtor Léo Fuchs. Como surgiu esta parceria e quais foram as principais dificuldades enfrentadas por vocês?

Deborah Secco -
O Léo Fuchs é um grande amigo, artista como eu, cheio de sonhos e desejos artísticos. Nosso encontro foi imediato. Já o conhecia por seus trabalhos de sucesso no teatro, mas quando sentamos e colocamos tudo no papel, vi realmente que meus sonhos podiam se realizar e da forma que quiséssemos. Escolhemos o diretor que queríamos trabalhar, escolhemos desde o texto até o figurino juntos. Dificuldades em producão sempre existem, mas fazemos uma dupla bem afinada, de sucesso mesmo, o que torna nosso trabalho cada vez mais prazeroso.

Na peça, você aparece apenas de calcinha e sutiã e simula cenas quentes de sexo com o ator Erom Cordeiro. Qual são as principais diferenças de fazer este tipo de cena na TV e no teatro? Você se sentiu inibida em algum momento?

Deborah Secco - As pessoas valorizam muito esse fato da calcinha e sutiã (risos). Contamos uma história linda de um casal, desde a adolescência até a velhice. Óbvio que, para contarmos essa trajetória de quase 80 anos de amor, temos que passar por discussões, desejos, cumplicidade e sexo. Mas tudo feito de uma forma linda e não há cenas quentes de sexo não, só simulacões de um amor lindo vivido por Lia e Rodrigo.

A peça já passou por várias cidades desde que estreou, em julho, no Recife, e de lá pra cá já foi vista por mais de 20 mil espectadores. Qual tem sido a receptividade do público?

Deborah Secco -
Melhor impossível. O espetáculo é muito bom. Uma comédia romântica onde as pessoas, além de dar boas gargalhadas, saem do teatro pensando e refletindo. Na verdade, já fomos assistidos por 30 mil pessoas nesses dois meses de temporada. As pessoas amam a peca e se identificam demais com os personagens.

O fato de retratar o cotidiano comum acaba fazendo com que o público se enxergue na peça. Na sua opinião, é essa identificação que torna o espetáculo tão relevante e popular? A que você atribui este estrondoso sucesso?

Deborah Secco - Isso aproxima muito o público dos personagens, fazendo com que eles passem a fazer parte da história. Esse sucesso é gracas ao encontro teatral de várias pessoas que precisavam se encontrar nesse momento para dizer esse texto: Erom Cordeiro, Léo Fuchs, Ernesto Piccolo, Rosane Svartman e toda a minha equipe técnica (Rosana, Careca, Feio, Guz e Kátia). Eles não só se juntaram a mim nessa empreitada, mas agarraram este projeto como se fosse nosso filho. Um bom camarim reflete no espetáculo, nós todos nos amamos e nos respeitamos muito. Com isso... o sucesso vira consequência.

SERVIÇO
Mais uma vez Amor - Com Deborah Secco e Erom Cordeiro
Quando: Amanhã, às 21h, e domingo, às 20h
Onde: Teatro Madre Esperança Garrido (Colégio Santo Agostinho - Av. Contorno, s/nº, Centro)
Ingressos: R$ 60 (Inteira) e R$ 30,00 (Meia)
Pontos de venda: Zastras Brinquedos e Bilheteria do Teatro
Informações: (62) 3582-0009/3223-1328

Gosto apurado e talento que vem do berço

Com vozeirão privilegiado e influências preciosas de r&b, soul, samba-jazz e black music, Tony Gordon retorna à Goiânia para apresentação única no Bolshoi Pub

Nascido num verdadeiro ninho de preciosidades musicais, o músico Tony Gordon, filho de Denise Duran (irmã de Dolores Duran) com o jazzista Dave Gordon, não desapontou ao seguir os caminhos trilhados pela família. Com sua voz poderosa e estilo marcante que mistura influências de gênios do soul, como James Brown, Joe Cocker, Otis Reading e Marvin Gaye, com as ricas sonoridades brasucas de artistas fundamentais como Tim Maia, Jorge Ben e Wilson Simonal, o músico se apresenta amanhã, a partir das 22 horas, no Bolshoi Pub. Na bagagem, um repertório variado composto por clássicos inesquecíveis de r&b, soul, samba-jazz, samba-soul e black music.

Em entrevista exclusiva, Tony dividiu sua trajetória musical em três grandes momentos: o aprendizado, quando pôde tocar com os melhores músicos ou simplesmente ouvi-los de perto; a procura pela sua própria identidade, fase em que teve a chance de colocar a mão na massa até descobrir sua verdadeira sonoridade; e por último o deleite, que deriva dos dois primeiros e permitiu a ele desfrutar de tudo que a música oferece de bom. "Deixa de ser trabalho e vira prazer", afirma.

Indagado sobre os momentos que ficaram marcados na memória como os mais especiais da carreira, Tony destacou suas primeiras apresentações musicais como frontman. "Entre os muitos episódios marcantes, meu primeiro dia como cantor foi inesquecível... Estavam na platéia Sônia Braga, Cauby Peixoto e vários outros músicos importantes. A banda era excelente e foi realmente emocionante. Na verdade, foi uma semana incrível: estava cantando nesta casa há alguns dias e recebi elogios de Bob McFerrin. E olha que eu ainda nem sabia quem era ele", brinca.

Modéstia à parte, Tony já foi aplaudido por diversos músicos de renome, além de ter dividido o palco com artistas como Moacir Peixoto, Guilherme Vergueiro e Marva Wright em casas como Bourbon, Gallery, 150 Night Club, Havana e Blue Note. Entre suas versões mais famosas, estão canções como "Kiss", "On Broadway", "Get Up", "Isn´t She Lovely" e "I Feel Good", que segundo o músico não devem faltar no show de Goiânia. "Já toquei aí antes e foi maravilhoso. O público conseguiu entender e curtir com a gente. Foi emocionante! Espero receber de novo todo esse carinho!" 

 
SERVIÇO
Show com Tony Gordon
Quando: Amanhã, a partir das 22 horas
Onde: Bolshoi Pub (Av. T-2, esq. c/ R. T-53, Setor Bueno)
Ingressos: R$ 30
Informações: (62) 3281-6581

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As cordas mais rápidas do velho oeste

 Inspirada pelos filmes de Western Spaghetti, banda paulista The Dead Rocks desembarca hoje em Goiânia com a turnê do novo disco, Il Grilletto D'Oro

Com três turnês de sucesso pela Europa, shows na Argentina e em mais de dez Estados brasileiros, além de dois álbuns com cópias esgotadas, singles em vinil e participações em diversas coletâneas, a banda paulista The Dead Rocks retorna à Goiânia para duas apresentações: hoje, a partir das 20h30, na Mostra Ambientar e amanhã, às 22 horas, no Bolshoi Pub. Os shows fazem parte da turnê de lançamento do novo álbum do grupo, " Il Grilletto D'Oro", que acaba de sair com selagem da Monstro Discos.   

Inspirado no Western Spaghetti, como são chamados os filmes de cowboys rodados por diretores italianos entre 1963 e 1977, “O Gatilho de Ouro" de Johnny Crash (guitarra), Paul Punk (baixo) e Marky Wildstone (bateria) trás dez novos temas autorais, resgatando o tradicional som aveludado das antigas gravações dos anos 50 e 60 e trazendo a vibração instrumental deste trio formado em São Carlos há quase dez anos.

Recheado de referências do country, do rock 'n roll instrumental e das trilhas sonoras de Western Spaghetti, o registro contou com o dedicado trabalho de Sam Gambino, famoso artista norte-americano especializado no visual vintage e na arte tiki havaiana, que assina o encarte do disco. Como um verdadeiro cartaz de um filme de bang bang, a capa retrata um homem na forca com dois pistoleiros em segundo plano. Além do lançamento nacional pela Monstro Discos, o álbum também ganhará uma edição em vinil de dez polegadas pelo selo francês Hound Dog Records.

Na Mostra Ambientar, as dez faixas de Il Grilletto D'Oro serão apresentadas ao público logo após a exibição do filme The Good, the Bad and the Ugly, de 1966, dirigido por Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach. A casadinha não poderia ser mais certada, uma vez que a trilha sonora, de Ennio Morricone, foi uma das grandes inspirações do Dead Rocks para a produção do novo material, conforme explica o baterista Marky Wildstone em entrevista que você confere agora. Além do novo disco, Marky falou sobre a relação da banda com Goiânia, onde já tocaram mais de dez vezes, e os planos do trio para o próximo semestre.

Como foi a concepção, produção e gravação de Il Grilletto D’Oro? Qual a diferença mais marcante desse para os outros álbuns da banda?


Marky Wildstone - A concepção de Il Grilletto D'oro com certeza foi bem diferente de nossos outros álbuns. Johnny havia composto uma série de temas inspirados pelo som de Duane Eddy, The Ventures e as bandas originais de surf music. Resolvemos gravá-los em uma espécie de álbum temático, sem saber muito bem o que faríamos. Até que um amigo ganhou um equipamento de gravação portátil e nos convidou para testá-lo. Passamos então um final de semana, talvez um pouco mais, um feriado prolongado ou algo assim, gravando e se divertindo na casa dele, testando e gravando as novas músicas. Tudo bem informal, Johnny tinha gravado os temas em seu celular, ouvíamos todos os temas, arranjávamos uma possível versão e depois gravávamos. A bateria ficou em um quarto, o amplificador da guitarra em outro e o baixo no banheiro, com cabos que possibilitavam que tocássemos na mesma sala, mas sem que o som de cada instrumento vazasse sobre o outro. Ao final, tínhamos gravado 11 novos temas e gostamos muito dos timbres e da sonoridade. Acabamos ligando as faixas com esse conceito de Western Spaguetti, muito presente em todas as composições.

De onde surgiu a ideia de trabalhar com a temática dos faroestes?


Marky Wildstone -
Adoro cinema e trilhas sonoras. Após ouvir as músicas gravadas, foi inevitável a associação. Muitos temas de surf music são inspirados nos Bang Bangs...

O encarte do disco tem assinatura de ninguém menos do que Sam Gambino, famoso artista norte-americano especializado no visual vintage e na arte tiki havaiana. Como se deu o contato entre vocês?


Marky Wildstone - Já tínhamos feito algumas tatuagens de autoria do Sam. Achamos que seria um nome legal para agregar no disco e tínhamos certeza que teríamos um bom resultado. Ele nunca tinha feito nada na linha do Western Spaguetti e adorou. O contato foi todo feito pela internet.

O disco ganhará também um vinil de dez polegadas que será lançado pelo selo francês Hound Dog Records. Como surgiu esta parceria e qual a dificuldade de lançar neste formato no Brasil?


Marky Wildstone -
A Hound Dog Records é um selo francês de surf music de propriedade de Mr. Gerrymanders, amigo que conhecemos quando estivemos em turnê por lá em 2009. Eles nos convidaram para lançar algo e acabou que vai sair. A gente já tinha lançado vinil aqui no Brasil, feito discos na Polysom, mas eu acho que, desde que a fábrica reabriu, o custo ainda está muito elevado, talvez encaremos num próximo lançamento. 

Falando em incursões internacionais, o Dead Rocks traz na bagagens três turnês de sucesso pela Europa e diversos shows na Argentina e outros países. Como é a receptividade do público fora do Brasil?


Marky Wildstone -
É muito boa, na maioria dos lugares por onde passamos somos super bem recebidos e sempre surpreendidos, porque as pessoas acabam mantendo contato pela internet, querendo saber de novos discos, novas turnês, etc... cada hora numa língua diferente. Esses dias recebemos um pedido de CD da Malásia. A surf music tem fãs em todo o mundo.

Já tocaram em Goiânia antes? Como foi?


Marky Wildstone - Já sim, creio que mais de dez vezes. Sempre é prazeroso pra gente tocar em Goiânia, pois temos bons e velhos amigos aqui. O pessoal da banda Bang Bang Babies, toda a equipe da Monstro Discos, etc, e é sempre legal poder revê-los. Por sermos uma banda Monstro e termos tocado bastante na cidade, temos um público bem legal por aqui, que sempre lota os shows de forma frenética e divertida.

Para os shows em Goiânia, prepararam alguma coisa especial
?

Marky Wildstone - Sim, pretendemos tocar oito das dez novas composições na Ambientar, fazendo dessa forma um show de lançamento do novo álbum e contribuindo para o tema da mostra, que é Cinema. No Bolshoi, talvez toquemos menos temas do disco novo, mas com certeza faremos dois sets bem diferentes.

Quais são os planos da banda para o próximo semestre? Qual será o itinerário da turnê do novo disco?


Marky Wildstone - Temos uma turnê com o Fabulous Bandits agora em outubro que vai sair de Santa Catarina e vai até o Rio de Janeiro em quase 20 shows, durante um mês inteiro em um ônibus. Saiba mais no site http://fabulousbandits.com/deadbanditstour/


SERVIÇO
Show com The Dead Rocks - Lançamento do álbum Il Grilletto D´Oro

Quando: Hoje, a partir das 20h30. O filme The Good, the Bad and the Ugly será exibido às 18h30.
Onde: Mostra Ambientar 2010 (Av. T-9 esquina com T-30, Setor Bueno)
Ingressos: 2kg de alimento não perecível ou R$ 12
Informações: (62) 3097-1406

Quando: Amanhã, a partir das 22 horas
Onde: Bolshoi Pub (Av. T-2, esq. c/ R. T-53, Setor Bueno)
Ingressos: R$ 20
Informações: (62) 3281-6581

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O frescor do velho novo


Na próxima quarta (29), uma das maiores lendas vivas do rock mundial completa 75 anos. Trata-se de Jerry Lee Lewis, o The Killer, compositor e pianista americano cujo estilo único de tocar, martelando as teclas ora de pé, ora com a perna esticada em cima do piano, marcou gerações e ficará impresso para sempre no imaginário popular dos amantes da boa música. Dono de um inimitável topete e considerado um dos pioneiros do rock and roll ao lado de músicos como Chuck Berry, Lewis já figurou no Hall of Fame do Rock And Roll em 1986 e em 2005. Em 2004, a revista Rolling Stone colocou-o em vigésimo quarto lugar no seu ranking dos 100 melhores artistas de todos os tempos.

Assim como Elvis Presley, Lewis cresceu cantando música gospel nas igrejas pentecostais no sul dos Estados Unidos. Deixando a música religiosa para trás, ele tornou-se parte do recém-surgido movimento rock and roll, lançando sua primeira gravação em 1954 com um som misto de rhythm and blues, boogie-woogie, gospel e country.  

As apresentações de Lewis eram dinâmicas. Ele chutava o banquinho do piano da sua frente para poder tocar de pé, deslizava e batia suas mãos pelas teclas, subia no piano, pisava nas teclas e até mesmo sentava em cima delas. Chegou a botar fogo em um piano, jogando fluido de isqueiro dentro da cauda do mesmo, somente por ter de deixar Chuck Berry encerrar o show; fato que ele não aceitava. Seu estilo frenético pode ser conferido em filmes como High School Confidential e The Girl Can't Help It.

Para comemorar não só o aniversário, mas também os 55 anos desta carreira de sucesso, o músico lança agora Mean Old Man, uma verdadeira viagem sonora de aproximadamente 60 minutos na qual figuram alguns dos muitos amigos e admiradores que o artista acumulou ao longo da sua premiada trajetória. Entre os convidados estão ninguém menos do que Solomon Burke, Eric Clapton, Sheryl Crow, John Fogerty, Merle Haggard, Mick Jagger, Kid Rock, Kris Kristofferson, Nils Lofgren, Shelby Lynne, Tim McGraw, John Mayer, Willie Nelson, Keith Richards, Robbie Robertson, Slash, Mavis Staples, Ringo Starr e Ronnie Wood.

No repertório, além dos antigos e imortais clássicos de sua carreira, repaginados com uma vitalidade de dar inveja a qualquer franguinho da nova geração da música, novas canções também aparecem para provar que a verve criativa do The Killer continua intacta e bem afiada. O percurso trilhado em Mean Old Man é bem semelhante ao tomado em 2006 com Last Man Standing, que já trazia uma série de convidados, inclusive repetindo alguns dos hits chave desse período: Rockin My Life Away, que desta vez conta com as participações de Kid Rock e Slash, Middle Age Crazy, com Tim McGraw e Jon Brion, e a faixa-título, escrita para ele por Kris Kristofferson, são alguns destes hits.

Saindo em duas versões, uma delas de luxo, Mean Old Man foi produzido por Jim Keltner e Steve Bing, na velha e tradicional Memphis, em Los Angeles.

sábado, 18 de setembro de 2010

Arte moldada e viva

Localizado em Caruaru, no Agreste Pernambucano, Alto do Moura guarda o que há de mais genuíno na arte figurativa brasileira


Conhecido como a Princesinha do Agreste, Caruaru, município pernambucano localizado a cerca de 140 km de Recife, é famoso pelo mercado têxtil em crescente expansão e pelos ritmos variantes do forró que embalam as ruas da região durante todas as suas tradicionais festas populares. Porém, não é só dos balanços nordestinos e do ramo confeccionista que vive a Capital do Agreste. Quem visita a cidade não pode deixar de conhecer o Alto do Moura, uma pequena comunidade de artistas distante 7 km do centro da cidade onde vivem e trabalham mais de mil artesãos, em sua grande maioria filhos e netos de ceramistas tradicionais da região.

Uma das personalidades mais ilustres e emblemáticas da localidade é o Mestre Vitalino, um dos precursores no Brasil da chamada arte figurativa. Sua casa, atualmente transformada em museu, é uma das primeiras a despontar na rua de terra batida rodeada de pequenos casabres, todos tão humildes quanto a sua antiga morada. Hoje habitada pelos filhos e netos que deram continuidade à sua obra, o espaço é, a despeito da exacerbada simplicidade, objeto de visitação de gente do mundo inteiro, encantando os turistas pela riqueza de detalhes e cuidado com que a história da vida no sertão pode ser contada através do barro.

Se estivesse vivo, Vitalino já teria seus quase 101 anos. Porém, ao contrário de suas peças de barro já escurecidas pelo tempo, sua obra não envelheceu, servindo de referência estilística para a maioria dos bonequeiros locais.

É o caso, por exemplo, do Mestre Luiz Antônio da Silva, contemporâneo e discípulo direto do Mestre Vitalino. Com 75 anos de idade, 52 dedicados à arte, o artesão já teve seus trabalhos expostos em diversas partes do Brasil e do mundo. Há alguns anos, foi convidado a passar uma temporada no Japão. Foram 46 dias, nos quais produzou mais de 200 peças a partir de 100 kg de barro. Já em 1986, importou mais de 600 fusquinhas para a Alemanha. "As pessoas dão valor, especialmente as que conhecem o mundo e sabem que o que se faz aqui é diferente de tudo", afirma sem esconder o orgulho.

Além das usuais temáticas sertanejas presentes no cardápio iconográfico do Alto do Moura, Mestre Luiz Antônio traz um diferencial: é fácil perceber em seu acervo a presença constante da interação do homem com a máquina. Desse modo, pessoas munidas de máquinas fotográficas e filmadoras, eletricistas modificando instalações elétricas em postes e miniaturas de automóveis são recorrentes em sua coleção de bonecos.

Cenas do cotidiano


Se para nós a mistura soa inusitada, para Luiz Antônio é tudo um reflexo de suas experiências de vida e do processo histórico pelo qual passou o Alto do Moura. "Modelo no barro as coisas que vivo e as mudanças que experimento. Por exemplo, meu primeiro contato com uma filmadora de vídeo foi em uma ocasião há quase 30 anos em que uma equipe de TV esteve aqui na cidade. O equipamento acabou ficando na minha casa, e por curiosidade eu resolvi reproduzir as formas e incluir nas minhas criações", conta.

Representando sua vida no barro, como ele mesmo gosta de dizer, Luiz Antônio também é famoso pelas réplicas de pároco, que remetem a um de seus filhos que é padre, e dos carros de fórmula um, lembrança da data de morte de Ayrton Sena. "Sempre transportei para o terreno das artes as cenas do meu cotidiano, da minha família e da minha comunidade", explica.   

Sem medo de romper padrões

Outra cena bastante recorrente na obra do mestre Luiz Antônio são os partos, tanto humanos quanto veterinários. "Minha mãe era parteira, daí a ligação tão forte com o tema. Dos meus 10 filhos, apenas um não nasceu por suas mãos. Porém, quando eu iniciei a produção de algumas peças com essas características, todos ficavam horrorizados, falavam que era uma coisa feia, que não devia ser retratada", explica. Apesar disso, o mestre nunca teve medo de modelar o que fazia sentido para si, independente da opinião das outras pessoas. "Tem coisa mais bonita e mais humana do que nascer?", brinca.

Herança em forma de arte       

Atualmente, Luiz Antônio e sua esposa Odete possuem 10 filhos e 22 netos, a maioria empenhada em aprender e repassar para as próximas gerações a arte do barro e da criação artística. "Dos meus 10 rebentos, apenas dois não vivem mais no Alto do Moura. O restante, juntamente com sua prole, mora aqui e tira sustento da arte, da produção feita a partir do barro", conta, orgulhoso.

Porém, apesar da união artística familiar, cada um possui o seu espaço, o que segundo seu Luiz resguarda a identidade de cada artista. "Só vendo o que eu faço, nem os meus filhos vendem aqui na minha loja. Cada um tem o seu próprio empreendimento, sua rotina de trabalho e sua maneira de lidar com o barro", explica.

Aliás, no quesito produção, o Mestre Luiz Antônio é um crítico ferrenho do chamado artesanato de forma, que utiliza moldes para manter uma certa padronização nas peças. "Detesto quem trabalha com forma, pois descaracteriza completamente a arte do barro, pautada nas características individuais e únicas de cada peça e no toque que o artista dá para suas criações", afirma.

Resgate e conservação

Pensando no futuro, o mestre Luiz Antônio já prepara, no andar de cima de sua loja, a inauguração de um museu com suas obras, que contará com o apoio da prefeitura de Caruaru. "Quando o Vitalino morreu, deixou pouquíssimas peças. Da mesma forma o Zé Caboclo, que o Jackson do Rio, dono da maioria do acervo restante, acabou devolvendo para família em respeito à memória de sua obra. Não quero que o mesmo aconteça comigo, por isso, pretendo inagurar o museu enquanto eu ainda estiver vivo, para que eu possa deixá-lo com a minha cara e rico o suficiente para que possa de fato resgatar tudo aquilo que eu produzi de melhor", explica o artesão.

Recentemente, para alegria dos amantes e apreciadores da arte, o Alto do Moura foi considerado pela Unesco como o Maior Centro de Artes Figurativas da América Latina, o que garante os investimentos e cuidados necessários para a manutenção desta arte viva que pode ser vistas pelas ruas da comunidade. E você visitante, quando visitar Caruaru, não deixe de conhecer o lugar, que proporciona uma verdadeira viagem aos confins da memória e da vida no sertão. Obrigatório.    

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma ode à humanidade e suas miudezas

Com direção de Lua Barreto e texto de Millôr Fernandes, Grupo de Teatro Bastet apresenta A história é uma istória e o homem o único animal que ri


Com texto de Millôr Fernandes e direção de Lua Barreto, o Grupo de Teatro Bastet apresenta amanhã, às 21 horas, e domingo, às 20 horas, no Teatro de Bolso Cici Pinheiro, o espetáculo A história é uma istória e o homem o único animal que ri. Trazendo os atores Sandra Santiago e Thiago Moura no elenco, a peça aborda a evolução do homem de forma crítica e reflexiva, derrubando os mitos, questionando os ídolos e ridicularizando os grandes feitos da humanidade através da ótica dos excluídos.

Com a acidez e o sarcasmo que são marca registrada de Millôr, a montagem aposta no poder do ator-narrador, através de sua habilidade em criar sinuosidades e transmutar-se em diferentes personagens. O texto, narrativo e de conteúdo político-filosófico, trata da história do homem desde os primórdios até a atualidade, tocando em temas espinhosos como a corrupção e a crescente alienação da massa.

Trabalhando com diversos níveis de compreensão, o espetáculo alimenta-se da ironia e do sarcasmo do impagável humor milloriano, o que dá ao trabalho seu tom questionador e atual. Com cenário de Daniela Fiuza, figurinos por Elmira Vicente, preparação musical por Maria Angélica Pantarotto e composições por Jorge Beat, o que a peça procura é instigar a platéia a refletir sobre o seu próprio tempo, percebendo o valor das miudezas do cotidiano comum.

SERVIÇO
Espetáculo A história é uma istória e o homem o único animal que ri - Grupo de Teatro Bastet
Quando: Amanhã, às 21 horas; e domingo, às 20 horas
Onde: Teatro de Bolso Cici Pinheiro (Av. Anhanguera, esq. com Rua R-1)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: (62) 3524-2542