quinta-feira, 20 de maio de 2010

Groove Goiano no Projeto Discompasso



Para fazer os goianenses quebrarem a rotina sem perder o ritmo, o Projeto Discompasso mostra hoje o melhor do groove de Goiás, com apresentação das bandas Radiocarbono e Chimpanzés de Gaveta, a partir das 22 horas, no Rock n Gol. Com entradas a R$10 feminino e R$15 masculino, a noite musical conta ainda com o suingue do DJ residente Ângelo Martorell, abrindo e fechando os trabalhos da casa com muito Nu Funk, Groove e Break Beat.

O nome do grupo Radiocarbono advém de uma radiação musical bem sucedida entre os cinco elementos encontrados em forma brutal, Pinguim, Danilo, Douglas, Henrix e Taiguara. O som do grupo é caracterizado por uma mistura que vai do rock progressivo ao maracatu, frevo e samba, dando um toque de brasilidade e diversidade à performance do grupo.

Já o nome Chimpanzés de Gaveta evoca o instinto guardado em cada ser humano. Privilegiando o instinto mas sem desprezar a razão, os estudantes de Comunicação que formam o grupo deixam esse instinto sair da gaveta e se manifestar através da música. Rock, Black, Soul, Funk e Samba permeiam o som autêntico da banda.


SERVIÇO 

Projeto Discompasso - Chimpanzés de Gaveta, Radiocarbono e DJ Ângelo Martorell
Quando: Hoje, a partir das 22h
Onde: Rock n Gol (Rua 139, Setor Marista. Ao lado do Samauma)
Ingressos: R$10 feminino e R$15 masculino
Informações: (62) 8118-2700

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre a passagem do tempo e das boiadas


Documentário de Marília Rocha sobre a cultura sertaneja será apresentado hoje em sessão gratuita


O Cineclube Cascavel apresenta hoje, a partir das 19h30, no Centro Cultural Cara Vídeo, o documentário Aboio, da diretora goiana radicada em Belo Horizonte, Marília Rocha. Intitulada Sertão vira Cinema, a sessão procura aproximar o público da tradição e poesia sertaneja, lugar de fronteira permanente entre o moderno e o arcaico que apresenta-se não apenas em Minas Gerais, mas também em Goiás e várias outras localidades do Brasil.

Definido como um canto que serve de guia para as boiadas ao longo do sertão, o aboio é mostrado no filme também como uma possibilidade de rememoração e perpetuação da História. Orgulhosos vaqueiros de Minas Gerais a Pernambuco contam e demonstram o que é esse cantar, falam de sua vida sertaneja, dos animais, da lida. Suas narrações ganham contornos míticos na forma como Marília Rocha as expõe na tela, trazendo a restauração poética e lírica de um costume tão antigo: não há simplesmente o rosto e a voz do interlocutor. As palavras, na verdade, servem de gatilho para a plasticidade das imagens e dos sons, que ganham contornos tão ou mais importantes em relação às sentenças proferidas por aqueles homens. Nisso, o trabalho de edição sonora da dupla mineira O Grivo e a montagem de Clarissa Campolina harmonizam de forma certeira a ideia de uma experiência compartilhada que permeia todo o filme.

Aboio já seria um documentário notável e diferenciado só por tais elementos, mas Marília Rocha vai além. Ela insere em todo o filme imagens captadas com película super-8 (a cargo do videomaker Leandro HBL). A princípio, sente-se um estranhamento: são imagens de arquivo? Ou trabalhadas para se assemelharem a tais? À medida que a viagem se desenvolve, sentimos que aquelas filmagens parecem acoplar o passado ao presente. Sendo elas realizadas durante as andanças da diretora — recebendo, porém, aquele tratamento “envelhecido” —, a impressão é de estarmos assistindo ao presente travestido de passado. Ou vice-versa: um passado que invade o tempo presente.

Faz todo o sentido, dentro da proposta da realizadora em Aboio. Se o cântico que nomeia o filme vem de eras longínquas, de “tempos imemoriais”, como um dos entrevistados faz questão de frisar, então o que se assiste hoje também seria passível de se assistir ontem e poderá servir para o amanhã. Respeitando a força da tradição do aboio e todos aqueles que vivem por sua continuidade, Marília Rocha faz um atestado atemporal sobre a passagem do tempo.

SERVIÇO

SERTÃO VIRA CINEMA - Exibição do documentário Aboio, de Marília Rocha - Debate com o público após a sessão
Quando: Hoje, às 19h30
Onde: Centro Cultural Cara Vídeo (Rua 83, Nº 361, Setor Sul)
Realização - ABD-GO
Entrada franca

Aboio | Marília Rocha, Doc., MG, 2005, 71 min

No interior do Brasil, adentrando as extensões semi-áridas da caatinga, há homens que ainda hoje conservam hábitos arcaicos, como o costume de tanger o gado por meio de um canto de nome aboio. O filme aborda a música, a vida, o tempo e a poesia dos vaqueiros do sertão.

Prêmios: Melhor longa-metragem brasileiro – 10º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. Melhor trilha sonora e edição de som 9º CinePE. Menção honrosa do júri FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental. Melhor realização - 10o Mostra Internacional do Filme Etnográfico RJ.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Colados na Copa

De reuniões corporativas a intervalos de escola primária, o álbum de figurinhas da Copa do Mundo 2010 já virou o assunto preferido de crianças e adultos


Mania de crianças e adolescentes de todas as gerações, completar e colecionar álbuns de figurinhas pode ser uma experiência interessante, divertida e até viciante. Que o digam os colecionadores do álbum oficial da Copa do Mundo 2010, lançado no dia 11 de abril no Museu do Futebol, em São Paulo: menos de uma semana após o lançamento já era difícil encontrar as figurinhas na maioria das bancas do país. A altíssima adesão pegou desprevenidos os executivos da Editora Panini, empresa responsável pelo produto, que se esforçam, sem sucesso, para tentar atender a crescente demanda. A procura foi tanta que até furto de um carregamento contendo 135 mil figurinhas aconteceu no interior de São Paulo, dificultando ainda mais o abastecimento das bancas e revistarias da região. Muitos acreditam estar diante da maior febre nacional já registrada desde a Copa do Mundo de 1950, quando os cromos começaram a ser comercializados e colecionados.

Mas se engana redondamente quem pensa que a brincadeira atingiu somente o público infantil, tradicional consumidor deste tipo de produto. Na realidade, virou mesmo uma grande febre, atingindo em cheio os adultos e desenterrando o velho hábito de trocar figurinhas. Em praticamente todos os ambientes, de reuniões corporativas a intervalos de escola primária, sempre tem alguém fazendo o escambo das repetidas ou falando com entusiasmo que está prester a completar o álbum. Não importa a idade nem o gasto diário para preencher as páginas. Muitos pais, que colecionaram figurinhas na infância, hoje acompanham os filhos na confecção de seus álbuns.


A última vez que o gerente de informática Leonardo Ayek (32) colecionou figurinhas foi na Copa do Mundo de 1986, quando tinha apenas 8 anos. Porém, logo que soube do lançamento da Panini, através da televisão, tratou de comprar quatro álbuns, um para si e outro para cada um dos seus filhos. Gustavo (11), Thiago (9) e Gabriel (4), imediatistas como toda criança, rapidamente ficaram afoitos por completar seus respectivos álbuns, e para agilizar a processo o paizão sugeriu que completassem apenas um, que seria dos quatro. "Compro cerca de 30 pacotes de figurinhas por semana, o que contabiliza um investimento de 21 reais semanais. Percebemos que dividindo o total de figurinhas pelos quatro álbuns, demoraria muito para completá-los, por isso resolvemos dar prioridade para apenas um", conta Leonardo.


A coleção conjunta conseguiu unir ainda mais a família, que reserva os finais de semana à colagem dos cromos no álbum eleito. "Além de ser uma coisa divertida, colecionar as figurinhas em família me ligou ainda mais aos meus filhos, ampliando o tempo que passamos juntos e fazendo com que tenhamos bons momentos de descontração e harmonia", completa Leonardo.

Amante de esportes, especialmente o futebol, a estudante de Medicina Marcella Santos (22) ganhou o álbum e um pacote de figurinhas de presente, há cerca de um mês, de um amigo que retornava de São Paulo. A partir daí, passou a investir pelo menos R$10 em pacotes de cromos toda semana. "Acho interessante conhecer as seleções e os jogadores que irão disputar a Copa. É uma maneira divertida e interessante de se manter informada. As figurinhas contém apenas uma perspectiva dos jogadores que possivelmente serão recrutados, mas já dá pra ter ideia", comenta.

Para tentar antecipar os prováveis times de cada seleção, uma vez que a publicação chegou às bancas antes da escalação oficial, a empresa consultou alguns especialistas no assunto, como jornalistas e comentaristas esportivos. A equipe brasileira ficou composta por 17 jogadores, seis a menos que o técnico Dunga irá levar para a África do Sul. Assim como Ronaldinho, que ainda não está garantido na lista de Dunga, Adriano e André Santos também estão na publicação. Os outros jogadores que viraram figurinha são Julio César, Lucio, Juan, Luisão, Maicon, Daniel Alves, Josué, Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Kaká, Robinho, Nilmar, Luís Fabiano.


Troca-troca das figurinhas


Comercializado em 110 paises, o álbum da Copa deste ano conta com 640 cromos autocolantes, distribuídos em 72 páginas coloridas. Até agora, exatos 30 dias antes do início da competição, a família de Leonardo já tem uma coleção de quase 600 figurinhas, e as repetidas são trocadas pelas crianças na escola e pelo gerente na Evolutti, empresa onde trabalha. "Estamos todos engajados na busca pelas figurinhas que ainda faltam, e esperamos completar o álbum antes da Copa começar", estima.

Para a empresária Malu Costa (53), o grande prazer dos colecionadores consiste mesmo na troca das figurinhas, que dá um caráter coletivo e de cooperação mútua à brincadeira. "Nas últimas Copas eu não estava no Brasil, passei uma temporada nos Estados Unidos e na Europa. Lá não existe o hábito de trocar as figurinhas repetidas, as pessoas são mais tímidas e reservadas. Infelizmente, ainda não descobriram o enorme prazer que é realizar esse escambo, mas acredito que até a rigidez excessiva por parte desses países está mudando", conta.

Foi graças à troca de figurinhas que o jornalista Adriano Muhammas Lesme (23) conseguiu adiantar sua coleção, que contava com um número excessivo de cromos repetidos. "Quando as figurinhas foram lançadas, eu investia cerca de R$20 por semana na compra das figurinhas. Porém, algum tempo depois esse valor foi reduzido, uma vez que os cromos repetidos poderiam ser trocados e render figurinhas que eu ainda não possuia. Desse modo, consegui preencher boa parte do álbum, e agora só faltam 160 figurinhas para completar minha coleção", estima.

A demanda pela troca dos cromos repetidos se tornou tão abundante que os colecionadores passaram a articular encontros semanais para o escambo das figurinhas. O maior deles já acontece há um mês, e reúne um número significativo de participantes todos os domingos, a partir do meio dia, no Giraffas da T-63. "Estive no encontro do Giraffas na última semana e vi várias pessoas completarem seus álbuns através da troca das figurinhas. Pelo que eu soube, as pessoas reunidas ali se contataram pela internet ou foram avisadas pelo dono da banca que fica próxima", conta Adriano.

Álbum virtual

De carona no sucesso do álbum físico da Copa do Mundo 2010, a Fifa lançou uma edição virtual da nova mania, disponível no www.fifa.com. Para participar é necessário realizar um cadastro gratuito, que dá direito ao internauta de tornar-se membro do Club Fifa. Cada uma das 32 seleções tem 11 jogadores, além das figurinhas especiais que, assim como no álbum normal, complementam a coleção. A cada acesso, o internauta recebe dois pacotinhos, contendo cinco figurinhas cada.

Como na vida real, a página do álbum oficial conta também com uma área destinada a trocas. Nela, é possível oferecer figurinhas repetidas a outros torcedores ou mesmo adquirir aquelas de usuários que queiram trocá-las. Os torcedores que completarem o álbum antes de 16 de julho participarão de um sorteio que premiará 100 internautas com uma edição especial do álbum encadernada e em capa dura, com todos os cromos dos jogadores e estádios.

Figurinhas de tradição

Primórdios - A primeira figurinha conhecida fez parte de uma série emitida pela Bognard Lithography de Paris em 1867 para ilustrar pavilhões de feiras internacionais. Elas foram seguidas pelos cards de cigarros da Marquis of Lorne, que eram imagens em cartolina usadas em 1879 nos EUA para reforçar os pacotes de cigarros da mesma marca.

História das figurinhas no Brasil - Começou em 1907/08 com o lançamento da coleção de 60 bandeirinhas da tabacaria Estrela de Nazareth. Quase vinte anos depois é que começaram a aparecer as famosas estampas Eucalol (1925/26), que foram editadas até cerca de 1965. Mas é a partir de 1934, com o lançamento de 5 álbuns, que a coleção de figurinhas começa a pegar para valer. Entre os mais famosos podemos citar A Holandeza, Marcapito, Solar, balas Cinédia, balas Futebol, Azas da Vitória, balas Fruna e vários outros, que preenchiam o imaginário infantil e o dos colecionadores.

Inserção das figurinhas autocolantes - Originalmente as figurinhas eram feitas em papel e os colecionadores tinham que fixá-los no álbum usando cola. No final dos anos 60, pedaços de adesivos dupla face eram colados no verso das figurinhas, para que as mesmas pudessem ser fixadas no álbum sem o uso de cola. As figurinhas autocolantes só surgiram em 1972, durante o Campeonato Italiano.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O retorno


Sex 14/05: Festa WHITE FUNK IS BACK. Show com a banda Black Fuzzion (Jazz Experimental) + DJs Öric (Funk 70, Groovee Brasil, Afrobeat) e Angelo Martorell (Nu Funk, Break Beat)

Traga seu filme


Numa noite diferente com apresentação do grupo Vida Seca, Cineclube Cascavel fará a exibição de filmes sem curadoria

Com objetivo de incentivar a produção e a divulgação de trabalhos audiovisuais independentes, o Cineclube Cascavel preparou uma sessão diferente para a noite de hoje no Centro Cultural Cara Vídeo: os filmes exibidos serão aqueles que forem apresentados e inscritos na hora e local da sessão, sem poder de curadoria, sendo utilizado apenas o critério de tamanho do filme, com limite de até 15 minutos. O evento tem entrada franca e contará com show do grupo Vida Seca ao final das exibições.

Batizada de Anarcocine, a sessão avessa à curadoria será aberta às 18 horas com música mecânica, bar e as inscrições do primeiro bloco de filmes. Com início às 19 horas, a primeira parte terá duração de cerca de 40 minutos. As 19h40,  serão abertas as inscrições para o segundo bloco, que será exibido às 20h e possivelmente incluirá filmes que não couberam na primeira sessão. Já às 20h40 serão abertas as inscrições do terceiro e último bloco, que será exibido às 21h.

SERVIÇO
Anarcocine - Sessão avessa à Curadoria
Após as exibições, show com o grupo Vida Seca
Hoje, a partir das 18 horas
Local: Centro Cultural Cara Vídeo (Rua 83, Nº 361, Setor Sul)
Entrada Franca


sábado, 1 de maio de 2010

Mesiversário

Hoje a coluna de música do DMRevista tá fazendo um mês na minha mão.

Olha lá o que já saiu:
 

Congresso perde sua musa

Cansada do preconceito, a única transexual do Legislativo anuncia exílio na Europa para confecção de um livro, cuja temática deverá ser a sexualidade humana


Quem avista pela primeira vez a loiríssima Maria Eduarda Borges perambulando pelos corredores do Congresso Nacional, em Brasília, exalando uma feminilidade de fazer inveja a qualquer diva e atraindo os olhares travessos dos parlamentares da casa, não imagina que há menos de três anos a beldade atendia pelo nome de João Paulo e se escondia atrás da imagem sisuda de um dos mais respeitáveis e requisitados assessores legislativos da Casa. A transformação física da transexual, que desde criança já ostenta sensibilidade e características típicas do universo feminino, começou em 2007, quando, após retornar de uma Parada Gay em Salvador, decidiu de uma vez por todas abandonar a aparência bem comportada do garoto tímido para assumir o visual de mulher fatal, mais condizente com sua essência e personalidade. Além de tratamento hormonal e acompanhamento psicológico, a mudança incluiu prótese de silicone nos seios, cirurgia nas cordas vocais e plástica no rosto para suavizar algumas expressões masculinas, transformações que mudaram radicalmente a rotina pessoal e profissional desta goiana, natural de Mozarlândia, que há cerca de dez anos já reside na Capital Federal e atua no Legislativo.

No Congresso, a nova aparência de Maria Eduarda colocou-a imediatamente no centro absoluto das atenções, despertando a ira das mulheres, que começaram a vê-la como uma concorrente em potencial, e o desejo dos homens, que não exitavam em entortar os pescoços para admirar a nova mulher que surgia. Porém, assim como tudo que é diferente acaba causando estranheza, a nova condição da assessora não passou ilesa ao preconceito, ainda que velado, dos frequentadores e membros da Casa Legislativa. Na entrevista que você confere agora, concedida ao DMRevista, a musa falou dos problemas que enfrentou nesta fase de transição e de sua decisão, anunciada recentemente, de exilar-se na Europa, onde pretende conviver com outra cultura e escrever um livro sobre sexualidade. 


DMRevista - Com que idade surgiu a compreensão de que sua alma e essência eram femininas? Sofreu discriminação por parte da família?


Maria Eduarda - Aos cinco anos de idade eu assistia o Xou da Xuxa e visualizava a feminilidade dela e das Paquitas e aquilo me encantava. Depois disso, comecei a usar roupas da minha mãe as escondidas, e a partir daí tudo foi consequência.

Por parte de meus entes familiares, nunca foi recriminada nem enfrentei preconceito, mas possivelmente eles sofreram por parte de outras pessoas com quem conviviam. Quanto à discriminação, veio como resultado da diferença. E como sempre fui diferente daqueles com quem convivia, ela foi inevitável. Até porque preconceito é um conceito pré-formado quando, infelizmente, as pessoas julgam precipitadamente no lugar de tentarem entender.


DMRevista - E depois de adulta? O que impulsionou a sua transformação? O que te deu coragem?


Maria Eduarda - Descobri que eu tinha atração pelo homem hetero.  Eu queria que ele me enxergasse como mulher, mas como meu físico não condizia com meu pensamento decidi começar minha transformação. Certo dia eu estava com um rapaz que só ficava comigo pelo lado financeiro, até que, passando por uma travesti, observei o quanto ele se encantou por aquela imagem. Foi aí que percebi que ficar com homem hetero de forma plena só seria possível quando também me tornasse feminina.
DMRevista - O que mudou no seu trabalho no Congresso depois da transformação? Sofreu preconceito?


Maria Eduarda - A mudança mais significativa no trabalho foi o foco que se formou em torno da minha “figura feminina”. Não existia mais naturalidade de olhares e comentários, mais parecia um Big Brother do Congresso, onde as câmeras estavam todas voltadas para mim. Seria possível imaginar alguém sair do anonimato e se tornar o centro das atenções sem preconceito? Claro que ele veio atrelado a tudo isso. E o preconceito velado, que é ainda pior. Antes as mulheres me adoravam por ser um homossexual, quando todos sabem que uma mulher sempre tem um amigo gay. Hoje me tornei rival, sendo que não nutro qualquer rivalidade com as mulheres, muito pelo contrário. Já com os homens, quando eu era gay, muitos nem falavam comigo. Havia uma espécie de repulsa. Hoje, os mesmos que agiam assim me adoram, tratam-me como uma grande atração! Percebi então que o que importa para os homens é o visual.

DMRevista - Sobre a mudança oficial de nome, o que está impedindo a ação de se concretizar? 


Maria Eduarda - Infelizmente no Brasil a Justiça, todos sabem, é lenta e neste caso pior ainda. Estou aguardando, ainda, o julgamento na primeira instância do meu pedido. O pior para mim é o constrangimento ao apresentar um documento com nome masculino, sendo eu absolutamente feminina. Certo dia, por exemplo, embarcando no Aeroporto de Congonhas, o despachante durante o check-in simplesmente chamou a Polícia Federal por considerar que eu estava usando de falsidade ideológica. Ao Delegado que me inquiriu, alertei que a única maneira de provar que eu era eu mesma seria fazendo exame de sangue para identificar que meus cromossomos eram XY. Talvez, no meu caso, eles fossem mesmo XX (risos)!

DMRevista - Atualmente, quais são as funções desempenhadas por você no Congresso?


Maria Eduarda - Sempre atuei dentro do Legislativo, elaborando projetos e outras proposições. Fico envaidecida ao dizer que meu trabalho resultou na promulgação de mais de 50 leis e de três emendas constitucionais. Por exemplo, as cinco Leis do falecido deputado federal Clodovil Hernandez, foram elaboradas por mim. E isso é um orgulho!

Entretanto, decidi que já prestei muita contribuição ao meu País! Agora quero, e mereço prestar mais dedicação a mim. Por isso, vou mudar e passar uma temporada na Itália, de onde pretendo conhecer as maravilhas da Europa e também aprimorar-me em outras áreas da cultura.


DMRevista - Que mudanças você espera a partir disso? Na Europa o preconceito é menor ou essa mudança simboliza apenas uma mudança de radical de realidade? Quanto tempo pretende passar lá? Quais são os planos para os próximos meses?


Maria Eduarda - Aprimorar minha educação e cultura, aprender outro idioma e estabelecer novas amizades, esses são meus planos. Todos sabem que na Europa o preconceito em relação à sexualidade humana é muito menor, senão inexistente. Quanto ao tempo de permanência no exterior, não sei. Quero ir para viver bem e ser feliz, se durar dois meses, ou dois anos, só Deus sabe.


DMRevista - Sobre o livro que você vai escrever, poderia nos contar um pouquinho?


Maria Eduarda - Minha temporada na Europa será voltada para isso. Longe do meu ambiente natural, quero refletir e ver o que posso dividir com as pessoas. Assim, se antes eu ajudava contribuindo na elaboração de leis que dessem mais qualidade de vida aos cidadãos, agora quero ajudá-los a viver melhor, mexendo com o consciente deles. Por enquanto, penso num tema em torno da redefinição da sexualidade humana, porque a cada dia vejo não existir mais tendência sexual: a gente não gosta do homem ou da mulher, a gente gosta é de pessoas. E quando todos descobrirem que essa é a realidade, o preconceito acabará.