quarta-feira, 12 de maio de 2010

Colados na Copa

De reuniões corporativas a intervalos de escola primária, o álbum de figurinhas da Copa do Mundo 2010 já virou o assunto preferido de crianças e adultos


Mania de crianças e adolescentes de todas as gerações, completar e colecionar álbuns de figurinhas pode ser uma experiência interessante, divertida e até viciante. Que o digam os colecionadores do álbum oficial da Copa do Mundo 2010, lançado no dia 11 de abril no Museu do Futebol, em São Paulo: menos de uma semana após o lançamento já era difícil encontrar as figurinhas na maioria das bancas do país. A altíssima adesão pegou desprevenidos os executivos da Editora Panini, empresa responsável pelo produto, que se esforçam, sem sucesso, para tentar atender a crescente demanda. A procura foi tanta que até furto de um carregamento contendo 135 mil figurinhas aconteceu no interior de São Paulo, dificultando ainda mais o abastecimento das bancas e revistarias da região. Muitos acreditam estar diante da maior febre nacional já registrada desde a Copa do Mundo de 1950, quando os cromos começaram a ser comercializados e colecionados.

Mas se engana redondamente quem pensa que a brincadeira atingiu somente o público infantil, tradicional consumidor deste tipo de produto. Na realidade, virou mesmo uma grande febre, atingindo em cheio os adultos e desenterrando o velho hábito de trocar figurinhas. Em praticamente todos os ambientes, de reuniões corporativas a intervalos de escola primária, sempre tem alguém fazendo o escambo das repetidas ou falando com entusiasmo que está prester a completar o álbum. Não importa a idade nem o gasto diário para preencher as páginas. Muitos pais, que colecionaram figurinhas na infância, hoje acompanham os filhos na confecção de seus álbuns.


A última vez que o gerente de informática Leonardo Ayek (32) colecionou figurinhas foi na Copa do Mundo de 1986, quando tinha apenas 8 anos. Porém, logo que soube do lançamento da Panini, através da televisão, tratou de comprar quatro álbuns, um para si e outro para cada um dos seus filhos. Gustavo (11), Thiago (9) e Gabriel (4), imediatistas como toda criança, rapidamente ficaram afoitos por completar seus respectivos álbuns, e para agilizar a processo o paizão sugeriu que completassem apenas um, que seria dos quatro. "Compro cerca de 30 pacotes de figurinhas por semana, o que contabiliza um investimento de 21 reais semanais. Percebemos que dividindo o total de figurinhas pelos quatro álbuns, demoraria muito para completá-los, por isso resolvemos dar prioridade para apenas um", conta Leonardo.


A coleção conjunta conseguiu unir ainda mais a família, que reserva os finais de semana à colagem dos cromos no álbum eleito. "Além de ser uma coisa divertida, colecionar as figurinhas em família me ligou ainda mais aos meus filhos, ampliando o tempo que passamos juntos e fazendo com que tenhamos bons momentos de descontração e harmonia", completa Leonardo.

Amante de esportes, especialmente o futebol, a estudante de Medicina Marcella Santos (22) ganhou o álbum e um pacote de figurinhas de presente, há cerca de um mês, de um amigo que retornava de São Paulo. A partir daí, passou a investir pelo menos R$10 em pacotes de cromos toda semana. "Acho interessante conhecer as seleções e os jogadores que irão disputar a Copa. É uma maneira divertida e interessante de se manter informada. As figurinhas contém apenas uma perspectiva dos jogadores que possivelmente serão recrutados, mas já dá pra ter ideia", comenta.

Para tentar antecipar os prováveis times de cada seleção, uma vez que a publicação chegou às bancas antes da escalação oficial, a empresa consultou alguns especialistas no assunto, como jornalistas e comentaristas esportivos. A equipe brasileira ficou composta por 17 jogadores, seis a menos que o técnico Dunga irá levar para a África do Sul. Assim como Ronaldinho, que ainda não está garantido na lista de Dunga, Adriano e André Santos também estão na publicação. Os outros jogadores que viraram figurinha são Julio César, Lucio, Juan, Luisão, Maicon, Daniel Alves, Josué, Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Kaká, Robinho, Nilmar, Luís Fabiano.


Troca-troca das figurinhas


Comercializado em 110 paises, o álbum da Copa deste ano conta com 640 cromos autocolantes, distribuídos em 72 páginas coloridas. Até agora, exatos 30 dias antes do início da competição, a família de Leonardo já tem uma coleção de quase 600 figurinhas, e as repetidas são trocadas pelas crianças na escola e pelo gerente na Evolutti, empresa onde trabalha. "Estamos todos engajados na busca pelas figurinhas que ainda faltam, e esperamos completar o álbum antes da Copa começar", estima.

Para a empresária Malu Costa (53), o grande prazer dos colecionadores consiste mesmo na troca das figurinhas, que dá um caráter coletivo e de cooperação mútua à brincadeira. "Nas últimas Copas eu não estava no Brasil, passei uma temporada nos Estados Unidos e na Europa. Lá não existe o hábito de trocar as figurinhas repetidas, as pessoas são mais tímidas e reservadas. Infelizmente, ainda não descobriram o enorme prazer que é realizar esse escambo, mas acredito que até a rigidez excessiva por parte desses países está mudando", conta.

Foi graças à troca de figurinhas que o jornalista Adriano Muhammas Lesme (23) conseguiu adiantar sua coleção, que contava com um número excessivo de cromos repetidos. "Quando as figurinhas foram lançadas, eu investia cerca de R$20 por semana na compra das figurinhas. Porém, algum tempo depois esse valor foi reduzido, uma vez que os cromos repetidos poderiam ser trocados e render figurinhas que eu ainda não possuia. Desse modo, consegui preencher boa parte do álbum, e agora só faltam 160 figurinhas para completar minha coleção", estima.

A demanda pela troca dos cromos repetidos se tornou tão abundante que os colecionadores passaram a articular encontros semanais para o escambo das figurinhas. O maior deles já acontece há um mês, e reúne um número significativo de participantes todos os domingos, a partir do meio dia, no Giraffas da T-63. "Estive no encontro do Giraffas na última semana e vi várias pessoas completarem seus álbuns através da troca das figurinhas. Pelo que eu soube, as pessoas reunidas ali se contataram pela internet ou foram avisadas pelo dono da banca que fica próxima", conta Adriano.

Álbum virtual

De carona no sucesso do álbum físico da Copa do Mundo 2010, a Fifa lançou uma edição virtual da nova mania, disponível no www.fifa.com. Para participar é necessário realizar um cadastro gratuito, que dá direito ao internauta de tornar-se membro do Club Fifa. Cada uma das 32 seleções tem 11 jogadores, além das figurinhas especiais que, assim como no álbum normal, complementam a coleção. A cada acesso, o internauta recebe dois pacotinhos, contendo cinco figurinhas cada.

Como na vida real, a página do álbum oficial conta também com uma área destinada a trocas. Nela, é possível oferecer figurinhas repetidas a outros torcedores ou mesmo adquirir aquelas de usuários que queiram trocá-las. Os torcedores que completarem o álbum antes de 16 de julho participarão de um sorteio que premiará 100 internautas com uma edição especial do álbum encadernada e em capa dura, com todos os cromos dos jogadores e estádios.

Figurinhas de tradição

Primórdios - A primeira figurinha conhecida fez parte de uma série emitida pela Bognard Lithography de Paris em 1867 para ilustrar pavilhões de feiras internacionais. Elas foram seguidas pelos cards de cigarros da Marquis of Lorne, que eram imagens em cartolina usadas em 1879 nos EUA para reforçar os pacotes de cigarros da mesma marca.

História das figurinhas no Brasil - Começou em 1907/08 com o lançamento da coleção de 60 bandeirinhas da tabacaria Estrela de Nazareth. Quase vinte anos depois é que começaram a aparecer as famosas estampas Eucalol (1925/26), que foram editadas até cerca de 1965. Mas é a partir de 1934, com o lançamento de 5 álbuns, que a coleção de figurinhas começa a pegar para valer. Entre os mais famosos podemos citar A Holandeza, Marcapito, Solar, balas Cinédia, balas Futebol, Azas da Vitória, balas Fruna e vários outros, que preenchiam o imaginário infantil e o dos colecionadores.

Inserção das figurinhas autocolantes - Originalmente as figurinhas eram feitas em papel e os colecionadores tinham que fixá-los no álbum usando cola. No final dos anos 60, pedaços de adesivos dupla face eram colados no verso das figurinhas, para que as mesmas pudessem ser fixadas no álbum sem o uso de cola. As figurinhas autocolantes só surgiram em 1972, durante o Campeonato Italiano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário