terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre a passagem do tempo e das boiadas


Documentário de Marília Rocha sobre a cultura sertaneja será apresentado hoje em sessão gratuita


O Cineclube Cascavel apresenta hoje, a partir das 19h30, no Centro Cultural Cara Vídeo, o documentário Aboio, da diretora goiana radicada em Belo Horizonte, Marília Rocha. Intitulada Sertão vira Cinema, a sessão procura aproximar o público da tradição e poesia sertaneja, lugar de fronteira permanente entre o moderno e o arcaico que apresenta-se não apenas em Minas Gerais, mas também em Goiás e várias outras localidades do Brasil.

Definido como um canto que serve de guia para as boiadas ao longo do sertão, o aboio é mostrado no filme também como uma possibilidade de rememoração e perpetuação da História. Orgulhosos vaqueiros de Minas Gerais a Pernambuco contam e demonstram o que é esse cantar, falam de sua vida sertaneja, dos animais, da lida. Suas narrações ganham contornos míticos na forma como Marília Rocha as expõe na tela, trazendo a restauração poética e lírica de um costume tão antigo: não há simplesmente o rosto e a voz do interlocutor. As palavras, na verdade, servem de gatilho para a plasticidade das imagens e dos sons, que ganham contornos tão ou mais importantes em relação às sentenças proferidas por aqueles homens. Nisso, o trabalho de edição sonora da dupla mineira O Grivo e a montagem de Clarissa Campolina harmonizam de forma certeira a ideia de uma experiência compartilhada que permeia todo o filme.

Aboio já seria um documentário notável e diferenciado só por tais elementos, mas Marília Rocha vai além. Ela insere em todo o filme imagens captadas com película super-8 (a cargo do videomaker Leandro HBL). A princípio, sente-se um estranhamento: são imagens de arquivo? Ou trabalhadas para se assemelharem a tais? À medida que a viagem se desenvolve, sentimos que aquelas filmagens parecem acoplar o passado ao presente. Sendo elas realizadas durante as andanças da diretora — recebendo, porém, aquele tratamento “envelhecido” —, a impressão é de estarmos assistindo ao presente travestido de passado. Ou vice-versa: um passado que invade o tempo presente.

Faz todo o sentido, dentro da proposta da realizadora em Aboio. Se o cântico que nomeia o filme vem de eras longínquas, de “tempos imemoriais”, como um dos entrevistados faz questão de frisar, então o que se assiste hoje também seria passível de se assistir ontem e poderá servir para o amanhã. Respeitando a força da tradição do aboio e todos aqueles que vivem por sua continuidade, Marília Rocha faz um atestado atemporal sobre a passagem do tempo.

SERVIÇO

SERTÃO VIRA CINEMA - Exibição do documentário Aboio, de Marília Rocha - Debate com o público após a sessão
Quando: Hoje, às 19h30
Onde: Centro Cultural Cara Vídeo (Rua 83, Nº 361, Setor Sul)
Realização - ABD-GO
Entrada franca

Aboio | Marília Rocha, Doc., MG, 2005, 71 min

No interior do Brasil, adentrando as extensões semi-áridas da caatinga, há homens que ainda hoje conservam hábitos arcaicos, como o costume de tanger o gado por meio de um canto de nome aboio. O filme aborda a música, a vida, o tempo e a poesia dos vaqueiros do sertão.

Prêmios: Melhor longa-metragem brasileiro – 10º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. Melhor trilha sonora e edição de som 9º CinePE. Menção honrosa do júri FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental. Melhor realização - 10o Mostra Internacional do Filme Etnográfico RJ.

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