sábado, 11 de setembro de 2010

A música de brinquedo do Pato Fu


Criada em 1992 em Belo Horizonte, Minas Gerais,  Patu Fu sempre foi uma banda diferente, sem medo de brincar com sua própria formação e de se aventurar por novos terrenos conceituais e sonoros. Prova disso é o novo disco do grupo, lançado recentemente sob o título de Música de Brinquedo: gravado inteiramente com instrumentos de brinquedo, o álbum relembra grandes sucessos da música mundial com uma roupagem impregnada de um lirismo doce e da suavidade típica da infância. Entre os sucessos repaginados estão Todos Estão Surdos, Pelo Interfone, Sonífera Ilha, Rock and Roll Lullaby, My Girl e Love Me Tender. 

Se no repertório não há nenhuma novidade, não pense que se trata de uma fase pouco criativa na família Takai. Pelo contrário. Apelando diretamente para a memória afetiva dos ouvintes, o grupo escolheu o time de canções à dedo, confirma explica o guitarrista e produtor da banda, John Ulhoa: "Estamos acostumados a ir juntando material inédito, novas composições, letras, melodias soltas ao longo de uma turnê, pra gerar um disco novo ao final. Isso nunca parou, e de fato temos um tanto de material que poderia ser justamente o ponto de partida para um novo álbum de inéditas. Mas esses arranjos de brinquedo teriam um efeito muito mais potente se aplicados a canções conhecidas. Aí é que estava a graça: colar essa sonoridade em clássicos do pop, recriar todas as frases melódicas de músicas que não fossem só conhecidas, mas que tivessem arranjos emblemáticos. O que procuramos é o prazer de ouvir velhas canções adultas em seus arranjos originais, tirados praticamente nota por nota, só que com instrumentos de brinquedo", conta.

Outro detalhe interessante e encantador são as vozes infantis, presentes em quase todas as músicas do registro. O coro, feito por Nina Ulhoa, filha de Fernanda e John, e Matheus D'Alessandro, amigo dela da escola, ambos com 6 anos, trouxe um sopro de espontaneidade e sinceridade ao disco, sem, contudo, deixar o trabalho com cara de disco infantil. "Não queríamos aquela sonoridade “coral de crianças”, e sim pequenas participações, marcantes e carregadas da inocência e desafinação pura de espírito que só as crianças conseguem. Acho que conseguimos, e foi um aprendizado e tanto", afirma John.

Em entrevista que você confere a seguir, John falou um pouco sobre a motivação que os levou a encampar o projeto, as dificuldades na captação de som dos brinquedos e os planos para o próximo semestre. Confira:
  
Como e quando surgiu a ideia de utilizar os instrumentos de brinquedo para gravar um disco?

John Ulhoa - Ouvimos algo parecido com isso há muito tempo, em 1996. Era um disco da série Classiks On Toys, com músicas do Beatles tocados em instrumentos de brinquedo pela turma do Snoopy e Charlie Brown. Mais recentemente, com a chegada dos filhos, brinquedos musicais passaram a frequentar nossas casas. E, aos poucos, começamos a testá-los em estúdio. Logo percebemos que era possível gravar tudo somente com eles e a ideia nos pareceu tentadora demais para ser deixada de lado.
Foi complicada a adaptação dos frágeis instrumentos de brinquedo às necessidades sonoras da gravação? Qual foi o maior desafio?

John Ulhoa - Eles são difíceis de serem tocados - pelas suas dimensões, difíceis de serem combinadas - pela afinação vacilante da maioria, e pela facilidade de quebrar. Além disso, quase nenhum tem escalas completas, o que fazia com que juntássemos três ou quatro "glockenspiels" de latão diferentes para obter a melodia que queríamos. Mas tudo isso era compensado pelo fato de o que buscávamos não era uma sonoridade perfeita e sim aquele clima de brinquedo, e as imperfeições fazem parte dele.
 
Como foi a escolha do repertório?

John Ulhoa - Buscamos coisas de nossa memória afetiva... e canções que tivessem algo na parte instrumental que fosse bem marcante: uma introdução, um solo... Queríamos que fossem não só músicas conhecidas, mas que os arranjos fossem conhecidos. E foi também intencional a inclusão de músicas em outros idiomas, pra tornar a coisa ainda mais universal.
 
Como foi o clima de comandar as crianças? Rolou em ritmo de festa ou teve momentos de seriedade?

John Ulhoa - Foi só brincadeira. Nade de tentar cantar afinadinho, não queríamos aquela sonoridade de "coral infantil". Elas eram apresentadas às músicas na hora, microfone o tempo todo ligado e elas cantando do jeito mais espontâneo possível. E sempre rápido, pra não cansar. Ficavam ali durante uma hora, depois iam brincar de outra coisa. E fizeram isso umas três vezes só.
 
A turnê do disco será feita com os próprios instrumentos de brinquedo? Como será a adaptação para os shows?

John Ulhoa - Sim, incluiremos canções do Pato Fu, mas também com os brinquedos. Nos shows utilizamos os mais "tocáveis", os que resistem um pouco mais e possam ser um pouco mais versáteis. E temos mais pessoas para tocá-los, por isso, não usaremos nada pré-gravado. Foi uma pesquisa grande para saber como captar o som de cada um, é um quebra-cabeça técnico, mas funcionou muito bem.

Quais são os planos para o próximo semestre?


John Ulhoa - Faremos o máximo possível de shows dessa turnê, e começaremos a pensar num DVD que registre tudo isso!

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